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Recebi o seguinte comentário e respondo logo abaixo.

Alex estudo na eesp e perguntei a Nakano e Bresser porque o Brasil cresce pouco e temos um juros altos e inflação alta também.Eles me falaram que o Brasil cresce pouco em relação a China e Índia porque temos uma taxa de juros alta que favoreçe a entrada de capitais especulativos valorizando o cambio,o dolar valorizado impede as exportações brasileiras além de que causa problema nas contas externas.

A solução deles foi o Brasil cortar juros para aumentar o superavit fiscal e estimular a produção cortes nos gastos do governo cambio administrado para garantir as exportações e manutenção nas contas externas,é pura demagogia do BC aumentar o juros pois a inflação é importada se o Brasil baixasse o juros poderiamos ter um maior controle da inflação porque a produção aumentaria.

Anônimo:

A quantidade de disparates nesta afirmação é tão grande que fica difícil responder em poucas palavras, mas vamos tentar.

1) A historinha que o Brasil cresce pouco porque o juro é alto e o câmbio é apreciado é bobagem. Se isto fosse verdade qualquer país poderia crescer muito rápido quando quisesse (o argumento de que "rentistas" não deixam é de um ridículo atroz: imagine o que conseguiria um político que fizesse o país crescer 10% aa; certamente ele não daria a mínima para o que os "rentistas" pensam). O simples fato de que certos países crescem muito e outros pouco quando um remédio tão conveniente está a mão já deveria deixar qualquer um desconfiado.

2) China e Índia crescem muito porque estão passando pelo processo que o Brasil passou entre 1930-80, i.e., tirar gente de setores de baixa produtividade (então agricultura) e passá-los para setores de alta produtividade (indústria), aumentando a produtividade e, portanto, o crescimento. Em outras palavras estão - principalmente a China - passando pelo processo de URBANIZAÇÃO. Para quem se diz adepto de uma abordagem "histórica" é no mínimo curioso não fazer qualquer menção a este fato.

Fora isto a China poupa 40% do PIB e o Brasil poupa 20%. Será que isto não faz qualquer diferença?

3) Mesmo com o juro real elevado a demanda doméstica tem crescido aceleradamente (investimento, por exemplo, cresce a 15% nos últimos 4 trimestres, o que não é pouco, e o consumo a quase 7%), ao mesmo tempo em que vemos sinais de estresse do lado da oferta. Certamente não temos problema para acelerar a demanda. Por outro lado, a estratégia de baixar a taxa de juros para "aumentar a oferta via investimento" acaba de ser testada e falhou fragorosamente, mesmo com o investimento crescendo bem à frente do PIB.

4) Investimento é primeiro demanda e depois oferta. Quanto a mais de crescimento é "comprado" por investimento? Nas contas de qualquer um que procure quantificar o argumento ao invés de proferir cretinices, cada unidade extra de investimento aumenta o produto pela produtividade marginal do capital.

Pelas minhas estimativas 1% do PIB a mais de investimento (grosso modo investimento crescendo 5.6% mais rápido que o PIB, ou seja, perto de 10% a.a.) ganha entre 0,2 e 0,25% a mais de crescimento do PIB potencial. Em outras palavras, jogamos 1.8% de demanda extra para 0,25% de oferta extra. Pede para o Yoshiaki explicar como esta conta fecha...

5) Quanto a administrar o câmbio, basta olhar para o que a Argentina fez e onde está indo parar depois que a capacidade ociosa foi preenchida. Inflação de 30%, desarranjo de preços relativos e crise social/política. Segurar o câmbio nominal sem segurar a inflação não vai te levar muito longe...

6) Eu mostrei (http://maovisivel.blogspot.com/2008/06/inflao-contagiosa.html) que a inflação não é importada. É só fazer a conta da inflação externa deduzida a variação cambial para perceber esta falácia. De novo é conversinha de quem não se preocupa em fazer conta.

7) Desde 2002 o câmbio só aprecia e as exportações só sobem. É verdade que preços subiram (aliás, é principalmente por isto que o câmbio aprecia), mas mesmo o crescimento das quantidades (manufaturados inclusive) tem sido bem mais rápido que nos anos anteriores. De qualquer forma, seja por preço, seja por quantidade, as exportações brasileiras mais que triplicaram nos últimos 5-6 anos. Como alguém pode alegar que a falta de dinamismo das exportações está prejudicando o crescimento? Aposto que se você perguntar a qualquer um deles qual foi o crescimento das exportações no período mais recente eles não saberão dizer sem ir consultar os números, coisa que aparentemente não fizeram (e não fazem).

8) Aproveite os bons professores da GV, mas não vá atrás do papo furado dos picaretas de plantão.

Abs

Alex



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