Econometria de resultados
Economia

Econometria de resultados


As contas nacionais até junho de 2008 foram divulgadas na semana passada confirmando o que se esperava: apesar da ladainha sobre como a combinação (“criminosa”, “irresponsável”, “neoliberal”, etc.) juro-câmbio não permite que o país cresça, o PIB insistiu em aumentar 6% nos últimos quatro trimestres, a taxa mais elevada desde o terceiro trimestre de 1995, refletindo a acelerada expansão da demanda doméstica, que atingiu 8% no mesmo período. Assim, o crescimento médio da economia brasileira desde 2004 ultrapassa 4,5% a.a., o maior dos últimos 20 anos.

Chama atenção, porém, o descompasso entre o crescimento da demanda doméstica e da produção, quase 2%, magnitude não observada desde 1997. Obviamente, expansão da demanda doméstica superior à do produto é equivalente a importações crescendo mais rápido que as exportações, mas esta é uma relação contábil. Cabe a pergunta: são as importações crescendo à frente das exportações que levam o produto a crescer menos que a demanda, ou, pelo contrário, é o crescimento da demanda que leva à aceleração das importações?

Recentemente foi publicado trabalho que defende a primeira alternativa, argumentando que o câmbio apreciado leva ao descompasso entre demanda e produção domésticas. No entanto, para que isto fosse verdade, seria necessário mostrar que a produção doméstica pode, de fato, se expandir à mesma velocidade que a demanda e, curiosamente, este é um tema completamente ausente do estudo. Não se encontra nele qualquer menção ao produto potencial da economia (quanto mais uma mísera estimativa), ou ao grau de utilização de capacidade instalada, ou ainda qualquer argumento mais sólido mostrando que a economia brasileira pode crescer 8% a.a. sem maiores problemas.

Já eu convido meus 17 leitores a inspecionar o gráfico que traça o comportamento das taxas de utilização de capacidade na indústria medidas pela FGV e pela CNI. Ambas mostram a ocupação nos níveis mais altos da série, uma forte evidência de que, discurso à parte, a indústria tem encontrado limites à expansão da produção.



É verdade que o investimento aumentou, mas não é necessário gênio para concluir que uma taxa de investimento ainda pouco superior a 18% do PIB não sustenta crescimento contínuo de 8%, o necessário para acomodar a demanda doméstica como sugerido pelo “econometria de resultados”.

Aliás, a aceleração do investimento ocorre precisamente no momento em que a taxa de câmbio se fortalece, mais uma evidência difícil de conciliar com a noção de que é o câmbio forte quem inibe a produção. Pelo contrário, como enfatizado por Afonso Pastore e Maria Cristina Pinotti, há uma relação estreita (e positiva) entre crescimento do investimento e das importações, mostrando que o câmbio forte desempenha papel relevante para aumentar a capacidade de crescimento do Brasil.

Econometria de resultados à parte, os dados revelam que o câmbio não é culpado pelo descompasso entre demanda e produção. A culpa é mesmo do tão-difamado, e pouco compreendido, “produto potencial”.

(Publicado 17/Set/2008)



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