Economia
Resenha do Livro: O Banqueiro dos Pobres
No segundo semestre do presente ano tive a oportunidade de ler o livro “O Banqueiro dos Pobres” (do original francês - Vers un monde sans pauvreté), escrito por Muhammad Yunus – principal ator da história – em conjunto com Alan Jolis. Graças à Editora Ática, foi trazido ao Brasil, em uma edição com 343 páginas, com tradução de Maria Cristina Guimarães Cupertino. O assunto principal do livro reside na força que o ainda insipiente microcrédito tem no que diz respeito à mudança de vida de pessoas, em especial, para aquelas deserdadas pela sociedade (fora do acesso ao crédito bancário convencional), por meio de uma estratégia eficaz, sem grande risco para o financiador e com grandes benefícios para os pobres.
Depois de uma passagem importante pelo meio acadêmico, Muhammad percebeu que as respostas advindas do tirocínio retirado dos livros teóricos não se aplicavam ao combate à pobreza de seu país. Certa vez, afirmou: “comecei a achar que minhas aulas eram uma sala de cinema onde podíamos relaxar, tranqüilizados pela vitória certa do herói”. Quando se voltou para o mundo real, verificou que em se utilizando algum meio de empréstimo, as pessoas menos favorecidas poderiam aplicar seus conhecimentos, de modo que pudessem gerar sua própria renda, aumentando sua “qualidade de vida” (termo que se colocado como tópico de comparação internacional não é deveras condizente com a realidade). Além dessa constatação, critica o Banco Mundial pela sua atitude dita superioridade organizacional: “a contratação de grandes cérebros não se traduz necessariamente em políticas e programas que ajudam as pessoas, particularmente os pobres. De que adianta serem eles os melhores do mundo, se pairam acima das nuvens e não conhecem a vida terrena? O Banco Mundial devia contratar pessoas que entendessem o pobre e a sua vida. Esse conhecimento tornaria esta instituição mais útil do que é atualmente”. Essa é uma verdade que atormenta a instituição, que passa por uma crise de existência, já tratada em artigo na revista Global Finance. Várias outras características como a primazia de empréstimos às mulheres, por meio da formação de grupos de entre – ajuda; estrutura bancária com estipulação de princípios flexíveis ao local onde a agência está instalada, e ausência das burocracias presentes no sistema geral são pilares de uma nova face em relação ao que pode ser feito para mitigar a pobreza em nível municipal, regional e mundial.
Indubitavelmente, indico esse livro para as pessoas que buscam conhecer uma atividade posta em prática não somente em Bangladesh, mas também em cerca de 140 países ao redor do mundo. Ele demonstra que o pobre não é inferior em capacidade criativa a qualquer outro cidadão de posição superior no estrato da pirâmide social, e que ele necessita sim de um suporte financeiro, mesmo que ínfimo para os parâmetros monetários comuns, de forma que possa vencer os grilhões e preconceitos inerentes aos nossos juízos de valor, calcados mais em lendas do que em dados concretos.
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