Inflação dos alimentos - como tratar?
Economia

Inflação dos alimentos - como tratar?


O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, respondeu às críticas recentes recebidas pela abordagem do Fundo em relação à fome, em função da alta dos alimentos, constatando que “ Estamos enfrentando um problema enorme” e que a própria instituição terá de rever as ferramentas processuais existentes para auxiliar de maneira categórica os países que estão passando por dificuldades nas esferas política (as intensas manifestações ao redor do globo¹) e econômica (no desequilíbrio causado nas contas públicas por políticas de subsídios e isenções de taxas de importação, mantendo o nível de preços abaixo do que seria comum, não sendo a solução definitiva, entretanto). Por parte de Guido Mantega, a solução está no avanço do patamar assistencial na área de alimentos, para a proposta de desenvolvimento agrícola, via continuidade das negociações da Rodada Doha² e em mudanças institucionais dentro do âmbito do Banco Mundial, pari passu ao que ocorreu dentro do FMI no início do ano. Esse assunto até já foi tratado noutro texto do presente blog, a saber:
http://economia--devpratica.blogspot.com/2008/02/global-risks-2008-abordagem-do-frum.html

O grande mistério a cerca do aumento generalizado do preço dos alimentos pode ser explicado, ao menos em parte, por alguns tópicos tratados abaixo:
  1. Aumento da demanda por alimentos. Os grandes responsáveis por esse incremento são os chineses e os indianos, visto que os seus países passam por um processo crescente de urbanização, acarretando em novos níveis salariais e possibilidades de consumo majoradas, em especial, no que diz respeito à alimentação. Há de se deixar claro que, apesar dos recordes registrados na produção de alimentos ao redor do mundo: 4% e 13% incremental, respectivamente, no output das lavouras nos Estados Unidos e União Européia. No que diz respeito ao Brasil, consoante o IBGE, a previsão é de que a safra nacional de leguminosas, cereais e oleaginosas deverá crescer 2,7% em comparação ao registrado em 2007 (que já foi recorde). Infelizmente, a resposta por parte da oferta, tendo em vista um aumento dos preços, é demorada e centralizada no equilíbrio antigo: Argentina, Brasil, EUA e União Européia, o que não é sustentável no longo prazo e acarreta as velhas políticas de subsídios e dumping. Nesse tópico é bom ressaltar, também, dificuldades meteorológicas, como se passa na Austrália, segundo maior produtor de trigo do mundo, sofrendo de forte seca. É um argumento de curto prazo, porém, e não vai ser dissecado no presente texto.
  2. Aumento dos preços do petróleo. Mantendo-se a tendência do custo do barril de petróleo acima de US$ 106 (o que pode ser visto pelo mercado de futuros em sites sobre cotações de commodities), não se tem a perspectiva de redução dos custos interligados ao preço da matéria-prima principal de fertilizantes e dos custos de transporte da produção,logo, a única maneira de sobreviver no mercado será o uso da capacidade de escala e dos ganhos de produtividades inerentes aos grandes latifúndios, o que não se vê, por exemplo, nos países africanos. Além de contribuir com a inflação geral na economia, o petróleo é uma forte opção para os especuladores assustados com os ganhos mornos das maiores empresas listadas na Bolsa de Valores. Em verdade, operar no mercado de commodities nos dias de hoje é fator fulcral para qualquer portfólio de respeito, ao menos é o que dizem as diversas reportagens disponíveis em sites confiáveis como o da revista Business Week.

Para se ter uma idéia da amplitude da discussão e de suas conseqüências no âmbito internacional, basta dizer que já ocorreram manifestações em mais de 30 países, com destaque para os fatos registrados no Camarões (24 pessoas mortas), nas Filipinas (imposição de ordem de prisão às pessoas que esconderem - ou estocarem – arroz), ou mesmo no Haiti (onde o primeiro-ministro resignou). Claro que as medidas a serem empreendidas na resolução desse problema exibem facetas de curto e longo prazo. Segundo a reportagem Reviving the ration card, publicada no site da revista britânica The Economist, algumas medidas tomadas ao redor do mundo são: i) redução das cotas de importação de alimentos (staple foods), medida a qual foi adotada por cerca de 60 países conforme dados do Banco Mundial; ii) imposição de barreiras contra a exportação do produto primário, aos moldes da Argentina; iii) desenvolvimento de programas de distribuição de renda, a exemplo do PROCAMPO, utilizado no México, aos camponeses pobres.

Não se sabe ao certo o que acontecerá no curto prazo, visto que a crise é sistêmica e diversas causas são apontadas como fulcrais no que diz respeito aos fatos vivenciados pela humanidade. Cada qual se ausenta da responsabilidade: Lula diz que a culpa é dos países ricos; os países ricos culpam o uso dos biocombustíveis pelo déficit de alimentos; os produtores de etanol dizem que a produção do cereal para uso combustível não atrapalha a reserva alimentar e assim por diante. Em meio a essa confusão discursiva, tentemos averiguar as argumentações de maneira completa, através da leitura desse texto e das fontes de informação mencionadas abaixo.

¹ Verificar no endereço do Estadão - http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=588 e também http://www.estadao.com.br/internacional/not_int160412,0.htm

http://www.estadao.com.br/economia/not_eco189903,0.htm




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