A capacidade para o pensamento crítico é, talvez, um dos maiores "buracos negros" do ensino português: desde logo porque pouco se fala disso. Creio que muitos professores têm deparado com este problema: incapacidade dos alunos para equacionar problemas, ou para reconhecer uma questão quando ela é colocada sob um ângulo ligeiramente diferente daquele que foi ensinada ou que consta nos manuais. Acontece isto com alunos que sabem a matéria, mas apenas se ela for apresentada de forma facilmente reconhecível. Creio que este é um sintoma típico de fracas competências de pensamento crítico: dos alunos, e talvez também dos professores. Como não existem estudos científicos sobre o nosso ensino (apenas muitas "reformas", inspiradas sabe-se lá em quê...) não conhecemos a dimensão do problema nem a sua origem. Podemos suspeitar que a deriva pelo ensino "pós-moderno" e "hippie", com a ênfase no "prazer" em aprender (por oposição à suposta "tortura" do antigo estilo) tenha privado os alunos do desenvolvimento de capacidades críticas. Recordo, por exemplo, como as demonstrações de teoremas (no final do secundário) eram penosas: e nós não tínhamos que as "inventar": tinhamos apenas que seguir o percurso que alguém já tinha feito. Mas tinham essa capacidade de mostrar como se podia abordar um problema de várias formas, de utilizar uma mesma ferramenta para vários fins. Alguém hoje tem que demonstrar teoremas? A suposta simplificação da aprendizagem, feita em nome (que ironia!) da luta contra o ensino "acrítico" e "de empinanço" pode mesmo ter resultado em que o ensino, hoje, seja mais de "empinanço" do que antigamente. Não é por haver livros "sedutores", carregados de imagens e caixas de texto coloridas, que a memorização de matéria deixa de ter lugar. Na Internet encontra-se muita matéria sobre ensino e "pensamento crítico", essencialmente nos EUA. Não faço ideia se essa preocupação tem resultados efectivos na capacidade de pensamento crítico dos alunos, mas aflige-me que, aqui, isso nem sequer esteja na "agenda", como agora se usa dizer. Alguns exemplos: |