“Neurónios musculados, precisam-se!”… Texto de Salvador Massano Cardoso no blogue Comentário: A analogia do cérebro com um músculo faz sentido, mas pode igualmente ser limitativa. É sabido que partes do corpo humano que não são usadas tendem a degradar-se e a estiolar, de acordo com uma lógica de economia de meios: se determinado órgão não é utilizado, será um desperdício estar a canalizar energia e outros recursos para a respectiva manutenção e funcionamento optimizado. Mas a "ginasticação" do cérebro — com o significado de 'uso regular para fortalecimento' — tem outras consequências que a metáfora do trabalho muscular não esclarece. Por exemplo: a aprendizagem matemática, nomeadamente de funções complexas, parece ter efeitos positivos em outras funções cerebrais, tais como a resolução de problemas do dia a dia, ou de organização profissional. Isto talvez aconteça devido à utilização dos mesmos circuitos e funções cerebrais para tarefas de natureza diversa — o que não é incompatível com a topografia fraccionada do funcionamento cerebral, em que uma dada tarefa recorre a diferentes zonas e funções cerebrais. É provável que as dificuldades, observadas por docentes em muitos dos seus alunos, no desenvolvimento de raciocínio crítico (usar uma ferramenta teórica para solucionar um problema diferente daquele em que foi inicialmente demonstrada, ou reconhecer uma questão que foi aprendida, quando a mesma surge sob um ponto de vista ligeiramente diferente) tenham a ver com a simplificação das exigências lectivas na matemática durante o percurso escolar anterior. Pode existir aqui um paradoxo cruel: ao dirigir o ensino para uma aprendizagem supostamente mais "humanizada", apoiada no "aprender por si" e com desvalorização dos processos de memorização [veja-se esta entrevista de Nuno Crato] a geração soixante-huitard pode ter provocado o efeito oposto ao pretendido, degradando a produtividade da aprendizagem. |