Economia
O setor externo e os 190 milhões de economistas
Recentemente tem se reiniciado a choradeira referente à apreciação do real frente ao dólar. Políticos e empresários dizem que as taxas atuais são extremamente prejudiciais às exportações, o que reduz a competição destes produtos no mercado externo, aumenta excessivamente as importações, o que por fim, gera déficits em conta corrente. De acordo com eles, a solução seria desvalorizar o câmbio, reduzir a taxa de juros e desonerar o setor exportador.
Vamos aos fatos: o Brasil cresceu 5,4% em 2007, sendo que a demanda doméstica (consumo, investimento e gastos do governo) cresceu algo próximo de 7%. Num cenário de demanda crescendo mais forte que oferta, são justamente as importações que possibilitam que o país cresça sem que esses desequilíbrios sejam mais contundentes. O gráfico abaixo mostra o crescimento das importações.
Fica claro que o crescimento das importações não se dá por conta de bolsas Louis Vitton e canetas Mont Blanc, e sim de bens intermediários (que são utilizados no processo produtivo para produção de outros bens com maior valor agregado) e bens de capital (bens utilizados para produção de outros bens). Ambas as categorias permitem um aumento da oferta e possibilitam que o país cresça muito próximo de seu potencial, sendo que ao contrário do que os burocráticos de plantão pensam, as importações são SIM, positivas para nós.
No que diz respeito às exportações, muito se ouvia quando o real estava absurdamente desvalorizado frente ao dólar em 2002-2003. Naquela época, onde a taxa nominal de câmbio chegou a bater quase R$4,0/US$, os exportadores diziam que o cenário era positivo e que devia ser mantido daquela forma. Com o passar do tempo, quando viu-se que as políticas de estabilização da economia adquiridas no governo que foi de 94-02 iriam ser mantidas, o real começou a valorizar-se, deixando os exportadores desconfortáveis. Quando o real ultrapassou a marca de 3,0/US$ os exportadores diziam que estavam produzindo com ganhos mínimos. Quando passou dos 2,50/US$ diziam que estavam prestes a fechar os negócios. Quando ultrapassou os 2,00/US$ os ineficientes fecharam as portas deixando no mercado apenas queles que souberam aproveitar o momento de bonanza para aumentar a produtividade e ficar mais competitivo no mercado internacional.
Vamos a um exemplo bairrista: A cidade de Novo Hamburgo possui um dos principais pólos calçadistas no país. Quando o real se apreciou muitas empresas exportadoras quebraram, fazendo que milhares de pessoas enfrentassem o desemprego. Por outro lado, algumas empresas que obtinham a maior parte de suas receitas começaram a fazer o dever de casa. Observavam que a taxa de câmbio não ia ficar desvalorizada por muito tempo e aproveitaram para voltar sua produção para o mercado interno com produtos de maior valor agregado. O resultado: Aquelas meramente exportadoras perderam mercado e fecharam as portas e as últimas se mantiveram firmes e fortes.
Além dos jornalistas, políticos e empresários falaram diversas coisas sem a menor fundamentação, eles vivem falando sobre a taxa de nominal de câmbio. Eles esquecem que a taxa que realmente importa é a real, que leva em consideração as variações nos preços do Brasil e do país que faz transações conosco. O exemplo clássico atual que ilustra esse caso é Argentina, que possui "metas para câmbio". Neste país, a taxa nominal de câmbio está bem mais desvalorizada que a do nosso país. Por outro lado, se observarmos a taxa real de câmbio, veremos que a moeda argentina está mais valorizada frente ao dólar do que a nossa, com nosso país vizinho obtendo taxas de inflação ao consumidor próximas de 20% ao ano.
Tudo isto quer dizer: importação é bom, exportadores ineficientes tem que sair do mercado e a taxa de câmbio que realmente importa é a real. FIM
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