Por que Gamberini está errado? Uma breve discussão sobre taxa de câmbio
Economia

Por que Gamberini está errado? Uma breve discussão sobre taxa de câmbio


Recentemente, o jornalista Rodolfo Gamberini, âncora do Jornal da Gazeta, afirmou que a taxa de câmbio não é a mais alta dos últimos anos. De acordo com a linha de raciocínio do apresentador, é necessário deflacioná-la por algum índice de preços (como, por exemplo, o IGP-M da FGV) para obter seu valor “corrigido”. Entretanto, esse cálculo incorre em um erro grosseiro, como será visto mais adiante. O link para acessar a declaração é esse.

Para compreender esse problema, é necessário definir, primeiramente, o que é taxa de câmbio. Trata-se do valor da moeda doméstica em termos da moeda estrangeira. Dito de outra maneira, é uma medida do poder de compra do Real em relação ao Dólar (ou entre duas moedas quaisquer). Atualmente, um Dólar equivale a R$ 3,42.

Dito isso, convém destacar a diferença entre os conceitos nominal e real. A definição supracitada diz respeito ao primeiro. Seu uso, no entanto, apresenta algumas limitações importantes, pois não contempla o poder de compra de uma forma abrangente, dada pela variação geral do nível de preços (inflação). Para superar esse problema, utiliza-se a taxa de câmbio real, que pode ser definida da seguinte forma:

Taxa de câmbio real = taxa de câmbio nominal x (preços externos / preços internos)

Com o intuito de facilitar a compreensão, vamos supor que a taxa de câmbio nominal se mantenha constante. Caso a inflação no Brasil avance a taxas mais rápidas em comparação com os Estados Unidos, a razão entre parênteses diminui. O resultado é uma taxa de câmbio real menor (mais valorizada), o que indica que está relativamente mais barato comprar nos Estados Unidos. Nesse caso, vale a pena aumentar as importações, uma vez que as mercadorias nacionais estão mais caras. Se o caso contrário fosse válido, haveria incentivos para a exportação, dado que o câmbio se desvalorizou.

O gráfico abaixo mostra a taxa de câmbio nominal e real desde janeiro de 1999 (período em que o câmbio deixou de ser fixo no Brasil). O que se percebe é que a diferença entre ambas cresceu ao longo do tempo em favor da primeira, num claro indicativo de que os preços brasileiros aumentaram mais rapidamente em relação aos americanos. Em março de 2003, os dados apontam para um valor de R$ 2,47, e não R$ 7,33.

Taxa de câmbio nominal e real (dólar americano)
(Em R$ / US$)
Em suma, o jornalista incorreu em um duplo erro: primeiro porque sua proposição de correção da taxa de câmbio se dá em apenas uma das pontas - não levando esse mesmo fator em consideração para os EUA -. Segundo foi a sua interpretação: aumentos no diferencial de preços em favor do Brasil tendem a tornar o câmbio real menor (mais valorizado), e não maior.

Fontes:
Taxa de câmbio nominal mensal: BCB. (Série 3698 do BCB)
Taxa de câmbio real mensal - dólar americano: BCB (Série 11753). Como o dado está em número-índice, utilizou-se o taxa nominal de janeiro de 1999 (R$ 1,50) como base, e essa foi corrigida de acordo com as variações mensais do indicador.



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