Economia
Ainda o preço de commodities e a inflação
Para quem tinha ainda dúvida acerca do que eu andei escrevendo sobre o impacto de preços de
commodities sobre a inflação, sugiro a sequência de gráficos abaixo preparada pelo Pastore, que tem uma visão muito semelhante à minha.
Para começar o Patore mostra a evolução do CRB em reais, i.e., convertido pela taxa de câmbio. Vejam a diferença de desempenho do CRB em dólares (forte aceleração) e o CRB em reais, praticamente de lado desde o final de 2006. Aliás, quando não está de lado, está em queda, como se pode ver, desde o início de 2008. Só isto já deveria bastar para demolir a tese da inflação importada.
Além disto, o Pastore também estima o coeficiente de repasse do CRB (em reais) para o IPCA: algo como 16%, isto é, se houver um aumento de 10% do CRB medido em moeda nacional, o impacto sobre preços domésticos seria da ordem de 1,6%. A notar que os preços em reais vêm caindo, portanto, se algum efeito há, é no sentido de baixar a inflação.
No caso do CRB alimentos a história é algo (não muito diferente). Mais uma vez, medido em reais, o CRB alimentos mostra elevação ao longo de 2007, mas estabilidade em 2008, quer dizer, sua variação no ano é próxima a zero.
E, como no caso anterior, o repasse dos preços de commodities em reais para o preços de alimentos no IPCA não é integral; longe disso, o coeficiente de repasse é 20%, i.e., um aumento de 10% do CRB alimentos em reais eleva preços de alimentos em 2%, cujo impacto sobre o IPCA cheio (dado que alimentos no domicílio pesam cerca de 16%) é de 0,32%.
Em suma:
1) Não há indicação de aumentos de preços de commodities em reais. Como mostrei no post "Pense globalmente; aja localmente (http://maovisivel.blogspot.com/2008/07/pense-globalmente-aja-localmente.html)", no caso do Brasil, preços de commodities e taxa de câmbio se movem em direções opostas, assunto que voltei no "Oportunismo ou inação? (http://maovisivel.blogspot.com/2008/08/oportunismo-ou-inao.html)";
2) Mesmo variações de preços de commodities em reais não são repassadas integralmente para preços, mas ponderadas por coeficientes de repasse da ordem de 15-20%.
Se alguém insistir neste assunto eu conto para o Pastore...
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