Ricardo Lacerda
Em certo sentido, os anos oitenta completam a modernização da vida sergipana iniciada nos anos sessenta, década em que a implantação da fábrica de cimento, a exploração do petróleo e a criação da Universidade Federal de Sergipe foram alguns dos principais eventos que abriram um novo tempo no estado. Em ritmo acelerado, o estado vai perdendo sua feição rural para assumir um perfil essencialmente urbano, com desdobramentos não apenas econômicos como também na sua composição social, com reflexos em termos de emergência de novos atores políticos.
Os anos oitenta marcaram a mais profunda transformação da estrutura industrial de Sergipe. Ao longo da década, novas atividades foram criadas e setores tradicionais passaram por importantes transformações. São investimentos que, em sua maior parte, respondem à estratégia de desenvolvimento definida na década anterior, mas cujos frutos somente se concretizaram quando os anos oitenta já estavam em andamento.
O novo patamar alcançado na produção de petróleo, os investimentos do sistema Petrobras na implantação da Unidade de Produção de Gás Natural (UPGN) e da Nitrofértil, no início da década, e da Petromisa, já na segunda metade da década, foram os avanços industriais mais significativos.
Esses grandes projetos provocaram transformações marcantes na economia estadual, com impactos importantes sobre a economia urbana, notadamente na grande Aracaju.
Setores Tradicionais
Mas outros investimentos foram importantes para revitalização e modernização em duas das atividades industriais mais tradicionais do estado, a têxtil e a do açúcar.
Estimulados pelos incentivos regionais, empreendimentos de grande porte da cadeia têxtil-confecção foram instalados em Sergipe, alguns de empresas locais e outros de grupos econômicos de fora da região. Em 1981, o grupo Alpargatas adquiriu e ampliou a confecção Gabriel Calfat, situada no Distrito Industrial de Aracaju (DIA), em 1982 entrou em operação a Fiação e Tecelagem Nortista, da família Franco, e, em 1987, a Santista instalou a sua unidade têxtil em Nossa Senhora do Socorro, enquanto algumas das empresas já existentes recorrem aos incentivos regionais para modernizar suas plantas produtivas. Era um novo ciclo expansivo que se abria para a cadeia têxtil no estado, segmento que passaria por dura provação na década seguinte, quando a abertura comercial ameaçou sua sobrevivência.
No setor canavieiro, o lançamento do Pró-Álcool (Plano Nacional do Álcool), incluindo a produção do carro movido a álcool, ainda nos anos setenta, revitalizou a atividade e ampliou seu escopo na década seguinte.
Estrutura
A comparação entre a composição do Valor da Transformação Industrial dos censos industriais de 1980 e 1985 já permite perceber o impacto dos novos investimentos na estrutura industrial do estado. Duas mudanças sobressaem: a indústria química que respondia por apenas 0,9% do VTI da indústria geral em 1980, passou a participar com 11,2%, em 1985, já como resultado da expansão da produção de fertilizantes e de etanol; e o setor têxtil voltou a ganhar peso na matriz industrial do estado, elevando sua participação de 29,3% do VTI, em 1980, para 39,9%, em 1985.
Assim, na metade da década, a matriz industrial já havia assumido as características básicas do perfil que perdura até os dias de hoje, em que quatro setores se destacam: alimentos e bebidas, têxtil, química e minerais não metálicos. De lá para cá, o setor têxtil tem enfrentado sucessivas crises e vem perdendo importância na estrutura industrial, enquanto a atividade calçadista, de produção de bebidas e de minerais não metálicos ampliaram suas participações.
É importante sublinhar que os investimentos que estavam transformando a estrutura industrial do estado vão perder fôlego nos últimos anos da década, quando os desequilíbrios macroeconômicos da economia brasileira se aprofundaram. Ainda assim, a implantação desses empreendimentos propiciou que a produção industrial em Sergipe mantivesse uma trajetória de crescimento significativo em todo o período, tendo registrado uma expansão média de 5,5% ao ano entre 1980 e 1989, bem superior ao ritmo médio do país.
TABELA. SERGIPE. ESTRUTURA DO VALOR DA TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL (VTI) EM 1980 E 1985 DA INDÚSTRIA GERAL. (%) |
Gêneros | 1980 | 1985 | 1985-1980 |
INDÚSTRIA GERAL | 100 | 100 | - |
Têxtil | 29,3 | 39,9 | 10,6 |
Produtos Alimentares | 24,2 | 20,9 | -3,3 |
Minerais Não Metálicos | 13,4 | 13,6 | 0,2 |
Química | 0,9 | 12,1 | 11,2 |
Vestuário/Calçados | 7,7 | 4,2 | -3,5 |
Mecânica | 2,1 | 2,2 | 0,1 |
Editorial e Gráfica | 1,4 | 1,1 | -0,3 |
Metalurgia | 3,9 | 0,8 | -3,1 |
Mobiliário | 0,9 | 0,7 | -0,2 |
Madeira | 1,2 | 0,7 | -0,5 |
Couros/Peles/Similares | 0,7 | 0,7 | 0 |
Diversos | 8,3 | 0,7 | -7,6 |
Extração de Minerais | 0,6 | 0,5 | -0,1 |
Bebidas | 1,6 | 0,5 | -1,1 |
Materiais Plásticos | 0,9 | 0,5 | -0,4 |
Mat.Elétrico/Comunicação | x | 0,4 | X |
Fumo | 1,1 | 0,3 | -0,8 |
Papel e Papelão | 0,5 | 0,2 | -0,3 |
Material de Transporte | 0,4 | 0,1 | -0,3 |
Perfumaria/Sabão/Velas | 0,3 | 0 | -0,3 |
Produtos Farmacêuticos | x | x | X |
Borracha | 0,5 | x | X |
Fonte: IBGE. Censos industriais de 1980 e 1985.
Publicado no Jornal da Cidade, 08/09/2013
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