A economia de Sergipe em 1970, 1ª parte.
Economia

A economia de Sergipe em 1970, 1ª parte.



Ricardo Lacerda


Iniciamos com o presente artigo uma série sobre a evolução da economia sergipana a partir de 1970. Adota-se 1970 como ponto de partida por dois motivos. A década de setenta vai significar para Sergipe, e para o conjunto da região Nordeste, um período de intenso crescimento do PIB, em que novas atividades vão ser implantadas, com impactos importantes na dinâmica de crescimento.

De outra parte, esses processos vão repercutir na estrutura social do estado, especialmente por conta da aceleração do processo de urbanização.

Sergipe passa a contar, progressivamente, com uma economia mais diversificada, com crescente peso das atividades urbanas (indústria, comércio e serviços). A nova estrutura econômica vai surgir mais integrada nacionalmente, fortalecendo os fluxos de mercadorias e de recursos produtivos, especialmente com alguns estados.

De fato, se alguns avanços produtivos importantes se verificaram na década de sessenta, como a implantação da primeira fábrica de cimento (1967) e as descobertas de petróleo em terra em Carmópolis, em 1963, e do campo marítimo de Guaricema, em 1968, é na década de setenta que o crescimento da exploração de sua base de riqueza minerais e a aceleração da urbanização produziram os efeitos de maior significado para a transformação econômica e social de Sergipe.


População

A o iniciar a década de setenta, a população sergipana ainda não havia atingido a casa de um milhão de pessoas. O censo demográfico de 1970 contou 911.251 residentes no estado, dos quais mais da metade situados na zona rural. Eram 489.893 (54%) pessoas na zona rural (ver Gráfico 1).

Ao longo da década anterior, a população urbana havia pulado de 295.929 para 421.358 (46% do total), uma expansão de 42,4%. Na década de setenta, a população urbana apresentou um novo salto, crescendo 49,4%, enquanto a população das áreas rurais aumentou apenas 7,6%. Com isso, o censo de 1980 vai constatar uma população urbana quase 20% maior do que a rural, 629.415 e 527.227, respectivamente. Considerando taxas anuais uniformes entre os censos de 1970 e 1980, a população urbana deve ter superado a rural no ano de 1975.


Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1960, 1970 e 1980.


Aracaju

As transformações econômicas e sociais dos anos sessenta e setenta impactaram fortemente a vida da capital. Aracaju que contava com menos de cem mil habitantes em 1950 viu sua população crescer 48% ao longo da década, alcançando 115.713 em 1960 (ver Gráfico 2).

Nos anos sessenta, novo salto populacional, agora de 61%, somando 186.838 residentes em 1970. A população da capital continuou sua trajetória de crescimento acelerado nos anos setenta. O censo demográfico de 1980 apura uma população residente de cerca de trezentas mil pessoas (299.422), 60% superior à constatada pelo censo anterior, e já respondendo por cerca de um em cada quatro sergipanos, mais propriamente 25,9% do total.




Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1950, 1960, 1970 e 1980.



Estrutura produtiva

A base industrial sergipana em 1970 era ainda muito estreita. O censo industrial daquele ano revelava uma estrutura industrial concentrada em apenas três setores de atividades, em que se destacava a indústria de produtos alimentícios, que inclui a produção de açúcar, com 39% do valor da transformação industrial (VTI), considerando a indústria de transformação e a indústria extrativa mineral. O setor têxtil, com suas 22 fábricas, participava com 28,3% do total e a produção de minerais não metálicos, em que se enquadra a produção de cimento, com 17,9%. Esses três segmentos, em conjunto, respondiam por 85,5% do VTI da indústria sergipana. A indústria petrolífera mal ultrapassava 1% do total.

Entre as atividades agrícolas, em termos de área colhida, a cana-de-açúcar predominava nas áreas úmidas porquanto a citricultura apenas havia dados os seus primeiros passos, ocupando o equivalente a cerca de 20% da área da primeira. O plantio de coco no litoral e a rizicultura, no baixo São Francisco também eram significativos. No semiárido, predominavam, como hoje, os cultivos de gêneros como mandioca, milho e feijão, ainda que importantes mudanças de participação entre eles tenham se verificado ao longo das décadas, e a produção de algodão, hoje extinta, tinha uma presença forte no sertão.

Nos próximos artigos, serão examinadas as principais transformações nessa base produtiva ao longo dos anos setenta.



Publicado no Jornal da Cidade em 28/04/2013
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