Ricardo Lacerda
No debate sobre a desindustrialização do país, vale a pena considerar as especificidades regionais. Ao longo da primeira década do século XXI, a indústria de transformação do Nordeste cresceu a taxas superiores à media do Brasil na ampla maioria das atividades.
Tendo em vista a descontinuidade da série histórica em 2007, com a alteração da Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE), é necessário quebrar a análise em dois subperíodos, 2000-2007 e 2007-2010.
Entre 2000 e 2007, a participação da região no Valor da Transformação Industrial (VTI) da indústria de transformação brasileira ampliou-se de 8,5% para 9,4%. Depois de 2007, até 2010, em um período já marcado pela crise financeira internacional e pela perda de dinamicidade da atividade industrial do Brasil, a indústria de transformação regional também se ressentiu, o que fez com que estancasse a ampliação de sua participação no VTI em 9,5% em 2010, igual à participação de 2007 na nova classificação das atividades.
Avançando no entendimento do significado do intenso crescimento econômico do Nordeste na primeira década do século atual em termos de mudanças em sua estrutura industrial, cabe examinar os setores em que o Valor da Transformação Industrial (VTI) apresentaram maior expansão, inferindo as variações dos pesos na composição da indústria regional e no total da atividade no Brasil.
Estrutura
Em 2010, os segmentos de maior peso na estrutura industrial do Nordeste eram a fabricação de alimentos, de derivados de petróleo e biocombustíveis (etanol) e o de produtos químicos, inclusive fertilizantes. Cada uma dessas divisões respondia por mais de 10% do VTI da indústria de transformação regional. Na sequência, representavam mais de 5% do VTI industrial a fabricação de calçados, de bebidas, metalurgia, minerais não-metálicos e a fabricação de veículos.
O setor têxtil, desde 2007, não consta mais na lista dos dez segmentos mais importantes no valor da produção regional da indústria de transformação. Cabe assinalar, que, em 2000, a fabricação de produtos têxteis participava com 7% do VTI regional e se situava na 5ª posição (Ver Tabela).
2000 a 2007
Na comparação entre 2000 e 2007, portanto antes da eclosão da crise financeira internacional, entre os principais setores industriais, três registraram crescimento bem acima da média regional, aumentando o peso no total: refino de petróleo e etanol, provavelmente por conta da elevação do preço no primeiro e o aumento da quantidade do segundo, a montagem e fabricação de veículos, praticamente inexistente até 2000, e a fabricação de calçados. Nos demais segmentos, o crescimento de participação foi pouco expressivo.
Não se trata, pois, considerando o conjunto de mudanças de participação no VTI, uma transformação produtiva de grande vulto. Apresentaram os recuos mais acentuados de participação a fabricação de têxteis, a metalurgia básica e a fabricação de alimentos e bebidas, essa última parcialmente em função do aumento do etanol em detrimento do açúcar.
Fonte: IBGE
2007 a 2010
No período mais recente, entre 2007 e 2010, em que os efeitos da crise já se evidenciam, alertando que os dados se referem à nova classificação das atividades, conforme se observa na parte debaixo da tabela, ocorreram algumas inversões que merecem destaque, mas que não significam grandes mudanças estruturais: forte redução do peso do refino de petróleo e de biocombustíveis, queda de participação dos produtos químicos e da metalurgia e o crescimento das atividades de fabricação de alimentos, calçados, bebidas e confecção, com o setor têxtil mantendo-se rebaixado, apenas registrando ligeiro aumento de participação. Nesse período é nítido o crescimento das participações das atividades de bens de consumo não duráveis.
Especialização
O curioso é que mesmo sem ter havido grandes transformações na estrutura produtiva da região, com exceção da já mencionada implantação da indústria automobilística e da expansão da fabricação de calçados e de petróleo e etanol e o descenso da indústria têxtil, a atividade industrial evoluiu em média, mais favoravelmente do que nas regiões mais ricas.
Entre 2000 e 2007, o Nordeste somente cresceu abaixo da média brasileira nas atividades de fabricação de alimentos e bebidas, metalurgia básica e setor têxtil. No período 2007-2010, a taxa foi inferior apenas na cadeia química, seja em derivados de petróleo e etanol, seja em produtos químicos, considerando os dez segmentos de maior peso no VTI regional.
O caso mais notório de decadência na região é o do setor têxtil que, inclusive, vem sofrendo grandes perdas no contingente de empregos em alguns estados em que a atividade tem forte presença, como Ceará e Rio Grande do Norte, em virtude do avanço dos produtos importados no mercado doméstico.
Publicado no Jornal da Cidade em 08/07/2012
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