Ricardo Lacerda
Na década de oitenta, a instalação de empreendimentos privados incentivados pela SUDENE e de plantas produtivas de empresas estatais conformou uma estrutura industrial mais complexa em Sergipe. Enquanto novas atividades foram instaladas diretamente por empresas do sistema Petrobras, como a produção de gás natural e a de fertilizantes, muitos investimentos privados foram realizados na modernização de unidades existentes que vinham perdendo competitividade frente a empresas de outros estados, bem como na implantação de novas unidades produtivas, tanto em setores tradicionais como em novos setores.
A instalação das grandes plantas industriais no segmento de petróleo e gás natural e na produção de fertilizantes formaram uma nova estrutura industrial com empreendimentos com escala, padrão tecnológico e valor adicionado diferentes de tudo que havia anteriormente. Esses investimentos, ao lado de outros fatores como o preço alcançado pelo petróleo no mercado internacional e, em menor grau, a expansão dos segmentos tradicionais nas cadeias têxtil e sucroalcooleira, fizeram com que o setor industrial de Sergipe assumisse um perfil inusitado.
Nova matriz
No ano de 1985, o valor adicionado conjunto da indústria de transformação e da indústria extrativa mineral alcançou 52% de tudo que foi produzido na economia sergipana. Incluindo a construção civil e os serviços industriais, essa participação ultrapassou 2/3 da riqueza gerada no estado (ver Tabela 1). Possivelmente, peso tão expressivo das atividades secundárias na produção de riqueza não se repetia em nenhuma outra unidade da federação.
Nas contas regionais do IBGE referentes a 1985, a atividade extrativa mineral, por conta da exploração de petróleo e gás natural, respondia por 21,9% do valor adicionado bruto e a indústria de transformação, por 36,8%.
A elevação da participação da indústria extrativa mineral na riqueza gerada a esse patamar tão extraordinário era explicada mais pela variação dos preços do petróleo e gás natural, do que pelo próprio incremento da produção. Quando a cotação internacional do produto recuou no final da década, o peso da produção extrativa mineral se reduz a menos da metade, quando o nível de produção do petróleo caiu muito menos do que isso (8,7% entre 1985 e 1990).
De outra parte, é possível interpretar que a perda de participação do setor industrial nesse período se deveu complementarmente ao impulso dado pelo crescimento da atividade industrial desde a década anterior sobre as atividades de comércio e serviços diversos, à medida que a urbanização se expandia, e também à expansão dos serviços públicos, financiados pelo crescimento da arrecadação e pelo aumento das transferências federais.
Nas contas regionais de 1990, o setor secundário já havia sido superado na formação da riqueza, mesmo que por uma diferença muito pequena, pelo setor de serviços.
Tabela 2. Sergipe. Participação das Atividades Econômicas no Valor Adicionado Bruto a Preço Básico - 1985 e 1990 (%) |
Atividades | 1985 | 1990 |
Agropecuária | 8,2 | 10,7 |
Indústria | 67,8 | 44,4 |
Indústria extrativa mineral | 21,9 | 9,0 |
Indústria de transformação | 36,8 | 23,8 |
Eletricidade, gás e água | 0,7 | 1,4 |
Construção | 8,3 | 10,3 |
Serviços | 24,0 | 44,9 |
Comércio e reparação de veículos e de objetos pessoais e de uso doméstico | 5,7 | 9,9 |
Administração pública, defesa e seguridade social | 8,4 | 19,1 |
Outros serviços | 9,9 | 15,9 |
Total | 100 | 100 |
Fonte: IBGE. Contas regionais.
Diversificação
Um movimento que é menos conhecido é a multiplicação de empresas industriais de pequeno porte em atividades que normalmente acompanham a expansão dos centros urbanos. Entre 1985 e 1990, o número de estabelecimentos pertencentes à indústria de transformação e à indústria extrativa mineral registrados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) saltou de 438 para 668, uma expansão de 52%.
Eram empreendimentos que proliferaram nos segmentos de alimentos e confecção ou em atividades mais vinculadas à própria expansão da construção habitacionais, como a fabricação de produtos minerais não metálicos, que abrange a fabricação de materiais de construção, além do crescimento dos estabelecimentos nas atividades de madeira e mobiliário e as pequenas metalúrgicas.
Um perfil dos estabelecimentos industriais em 1990 é apresentado na Tabela 2, na qual pode ser observada a concentração das unidades industriais com 250 trabalhadores ou mais nos subsetores têxtil e de vestuário e de alimentos e bebidas. Podem ser anotados ainda empresas nessa faixa nos segmentos de minerais não-metálicos (as fábricas de cimento), química (fertilizantes), calçados e extrativa mineral.
As empresas industriais com menos de cem empregados se distribuem em um grande número de setores. Entre 1985 e 1990, o número de estabelecimento desse porte saltou de 404 para 630. Expressando esse crescimento de pequenas e micros indústrias vinculado à expansão urbana, passaram atuar na economia local mais 35 estabelecimentos do ramo de madeira e móveis, 26 metalúrgicas, 18 empresas no segmento de papel, material e gráfica e 24 no segmento de indústrias diversas.
Tabela 2. Sergipe. Número de estabelecimentos segundo número de empregados em 1990 |
Setor IBGE | Número de estabelecimentos segundo número de empregados |
Até 99 | 100 a 249 | 250 ou Mais | Total |
Total da Indústria Geral | 630 | 11 | 27 | 668 |
Extrativa Mineral | 32 | | 1 | 33 |
Têxtil e Vestuário | 73 | 2 | 14 | 89 |
Alimentícios, Bebidas e álcool Etílico | 139 | 4 | 7 | 150 |
Produtos Minerais não Metálicos | 73 | 1 | 2 | 76 |
Borracha, Fumo, Couros, Peles e diversas | 47 | 1 | 1 | 49 |
Química, Farmacêuticos | 26 | 1 | 1 | 28 |
Calçados | 14 | | 1 | 15 |
Madeira e do Mobiliário | 85 | | | 85 |
Metalúrgica | 55 | 1 | | 56 |
Papel, Papelão, Editorial e Gráfica | 52 | 1 | | 53 |
Material de Transporte | 16 | | | 16 |
Mecânica | 12 | | | 12 |
Material Elétrico e de Comunicações | 6 | | | 6 |
Fonte: MTE-RAIS.
Publicado no Jornal da Cidade, em 15/09/2013
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