No ESTADÃO, em 23/05/2011, leio Paul Krugman escrevendo sobre “origens da crise, falsas e reais”.
Nestes últimos dias não dediquei muito tempo a tratar das origens da crise financeira; neste exato momento a questão mais abrasadora é o que vem em seguida. Mas a história é um campo de batalha e os costumeiros suspeitos estão se esforçando para reescrever essa história em seu próprio interesse.
Na verdade, para muitas pessoas isso já foi feito: já existe uma ortodoxia de direita no sentido de que Fannie e Freddie é que causaram a bolha imobiliária e sua explosão. Tudo foi culpa do governo!
E de onde partiu essa ideia? Bem, como se verificou, boa parte das alegações tiveram por base publicações de Edward Pinto da AEI, que afirma que Fannie e Freddie detinham uma grande porcentagem das “hipotecas subprime e outras de alto risco” – uma afirmação que, às vezes em discussões casuais, é transformada numa acusação, de que F&F detinham uma grande fração das hipotecas suprime.
Portanto é bom que Mike Konczal nos lembre que a definição de Edward Pinto de hipotecas “do tipo subprime” foi algo que ele criou – e o que acabou se verificando é que as suas supostas categorias de alto risco não tinham, absolutamente, tanto risco e que na verdade elas se assemelhavam mais a uma hipoteca tradicional do que uma verdadeira real suprime.
O documento do qual tirei o diagrama acima, de David Min, deixa claro que os empréstimos feitos por Fannie-Freddie comportavam muito menos risco do que aqueles originados no setor privado – e em particular que os títulos lastreados em hipotecas emitidos por instituições privadas que, essencialmente, não eram regulamentados, implicavam muito mais risco do que qualquer coisa que o governo estava promovendo.
Em resumo, a afirmação de que “o governo é que fez isso” está baseada em dados totalmente errôneos e é difícil ler esta história sem acreditar que esses dados foram deliberadamente arquitetados de modo a nos confundir.