Ricardo Lacerda
É notório o empenho do governo brasileiro em deixar para trás o baixo dinamismo em que se arrasta a economia brasileira. Desde meados de 2011, quando ficou claro que a deterioração do cenário europeu contaminaria as perspectivas de crescimento doméstico,o governo fez uso de um amplo leque de ações com o propósito de aquecer a economia por meio do aumento da demanda das famílias e das empresas preservando, todavia, os gastos públicos.
Apesar dos reiterados anúncios do Ministério da Fazenda de que a retomada da economia já estaria em curso, sinais mais consistentes são ainda esparsos e convivem com a piora de alguns indicadores. A persistente turbulência na Zona do Euro, de desfecho imprevisível, e a titubeante recuperação do nível de atividade da economia americana, somadas a restrições internas, têm segurado a reaceleração do nível de atividade, gerando dúvidas sobre o que é possível esperar da economia brasileira no segundo semestre de 2012 e em 2013.
Estímulos
As medidas de estímulo ao crescimento contemplaram todo um arsenal de instrumentos para recuperar a capacidade de endividamento das famílias, para desonerar o consumo, reduzir o custo dos empréstimos e elevar a competitividade da produção interna frente aos produtos importados.
Vários instrumentos foram utilizados para alcançar esse objetivo: desvalorização cambial, desonerações tributárias e redução do custo do dinheiro, prioridade de fornecimento interno nas compras públicas.
A redução das tarifas da energia elétrica para uso produtivo, que hoje se acena, será mais um fator de alcance para a recuperação da competitividade da produção industrial interna frente à importação.
Algumas medidas também estão sendo implementadas visando destravar o investimento em infraestrutura, o que cumpriria o duplo objetivo de elevar a demanda agregada, inclusive pelas novas oportunidades de negócios que descortina, e ampliar o potencial de crescimento de longo prazo.
A retomada
Há poucas dúvidas de que as medidas adotadas terão impacto no ritmo de crescimento já no terceiro trimestre de 2012, mas somente se traduzirão em resultado mais alentado no último trimestre do ano. Por conta do retardo acima do esperado dos efeitos das medidas adotadas, as projeções de crescimento mais recentes dos departamentos econômicos das principais instituições bancárias e do FMI revisam para baixo a taxa de expansão do PIB de 2012, mas revisam para cima, ou pelo menos mantêm estimativas de 4% ou mais, para o crescimento de 2013.
À medida que os incentivos ao consumo comecem a ter efeitos mais diretos sobre a queda dos estoques e reanime a produção interna já robustecida pelo conjunto de estímulos, é de se esperar que o ritmo de crescimento acelere.
Ainda que o crescimento do PIB de 2012 não alcance 2%, quando os indicadores antecedentes sinalizarem taxas anualizadas de expansão acima de 3% no terceiro trimestre e de 4% ou mais no quarto trimestre, a confiança no crescimento será restabelecida.
O Gráfico a seguir apresenta a mediana das projeções do crescimento do PIB trimestral na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Nessa série, depois de um resultado frágil para o segundo trimestre, a economia entra em trajetória ascendente no terceiro trimestre.
Há interrogações sobre o comportamento da inflação e sobre os preços de nossas principais commodities, sem falar nos desdobramentos da crise europeia, cujos desfechos podem induzir a ajustes de trajetórias. Mas, ao fim e ao cabo, há fortes motivos para acreditar que,em breve, a economia brasileira voltará a apresentar taxas de crescimento robustas.
Fonte: Banco Central do Brasil. Boletim Fócus
Publicado no Jornal da Cidade em 12/08/2012
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