O PIB do 2º trimestre de 2015
Economia

O PIB do 2º trimestre de 2015


Ricardo Lacerda

É preciso dizer que o período de ajuste da economia brasileira está ainda na sua primeira etapa. Os efeitos da redução em curso da demanda agregada por meio dos cortes no poder de compra da população, da redução dos gastos públicos e das mudanças do câmbio, apesar de já terem se manifestado com muita intensidade no primeiro semestre de 2015, devem se acentuar nos próximos três ou quatro trimestres, antes que a fase mais dura do ajuste fique para trás.

A economia brasileira parou de crescer no segundo trimestre de 2014. Naquele trimestre, na série do PIB que compara o crescimento com o mesmo período do ano anterior, o setor agrícola caiu 1,5%, o setor serviços recuou, o que não acontecia desde o quarto trimestre de 1996, e a atividade industrial despencou 3,6%. Em nenhum outro trimestre da série, iniciada em 1996, os três setores (agricultura, indústria e serviços) apresentarem queda simultaneamente. O início da estagnação coincidiu com a acentuada deterioração dos termos de trocas do comércio exterior, decorrente da queda nos preços de nossas principais commodities, e o resultado da agricultura esteve associado à estiagem de 2014.

A taxa do PIB, nessa série, foi rebaixada do patamar médio de 2,5% para abaixo zero. Na segunda metade de 2014, o nível de atividade apresentou taxas de crescimento trimestrais ligeiramente abaixo de zero, mesmo com a multiplicação de estímulos a setores específicos (ver Gráfico).

Em 2015, a série do PIB trimestral declinou novamente, refletindo imediatamente as medidas de ajustes que comprimiram o poder de compra da população e a redução dos gastos do governo: o PIB trimestral, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, caiu 1,6%, no 1º trimestre e 2,6% no segundo trimestre.

A levar em consideração as projeções de mercado (de 4 de setembro, anterior à reclassificação das dívidas brasileiras pela Standard & Poor's), o impacto do ajuste sobre o nível de atividade deverá se acentuar nos dois últimos trimestres de 2015, depois será atenuado no primeiro semestre de 2016 e o nível de atividade deixará de cair no segundo semestre daquele ano (Ver Gráfico).



Fonte: IBGE-CNT. As projeções são do relatório de mercado do Banco Central de 04 de setembro de 2015.

Setores

Os resultados do segundo trimestre de 2015 foram muito ruins, com a exceção do setor agrícola, que superou os efeitos mais graves da estiagem no centro-sul, e da indústria extrativa mineral, impulsionada pelo crescimento da produção do petróleo do pré-sal.

Cinco atividades apresentaram desempenhos especialmente críticos, sendo três do setor industrial e duas no setor de serviços: a indústria de transformação, a oferta de energia e água, a construção civil e o comércio e as atividades de transporte (ver Tabela). Entre as cinco atividades, apenas o fornecimento de energia e água não não acentuou o ritmo de queda no segundo trimestre de 2015.

O conjunto da atividade industrial recuou 5,2% em relação ao mesmo trimestre de 2014. Somente a atividade extrativa mineral foi poupada. A indústria de transformação caiu 8,3%, o setor de energia e água, 4,7%, e a construção civil, 8,2%. Nesses três segmentos, o nível de produção vem caindo trimestre a trimestre, na série que compara com o mesmo período do ano anterior, desde o segundo trimestre de 2014.

Entre as atividades de serviços, o comércio apresentou o pior resultado, queda de 7,2%, sempre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, e as atividades de transportes recuaram 6,0%. O início da retração do nível de atividade do comércio remonta também ao segundo trimestre de 2014, mas o declínio se acentuou muito depois que foram adotadas as medidas de compressão do poder de compra pela nova equipe econômica. E o setor de transporte, que se manteve em crescimento até o final do ano passado, registrou dois trimestres de quedas muito acentuadas em 2015.

O período mais duro do ajuste deverá se alongar por mais trimestres porque os efeitos das medidas adotadas sobre a demanda agregada da sociedade ainda estão se manifestando e a agenda do ajuste prevê novos cortes nas despesas públicas e de poder de compra da população.



Fonte: IBGE-CNT

Publicado no Jornal da Cidade, em 13 de setembro de 2015 



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