Economia
A desaceleração do nível de atividade no 2º semestre de 2011
Ricardo Lacerda
Foi intensa a desaceleração do nível de atividade da economia brasileira no segundo semestre de 2011, na esteira das medidas restritivas adotadas pelo governo para fazer frente à pressão nos preços, associada, em parte, ao excessivo aquecimento do ano anterior. Com a piora do cenário externo, a desaceleração foi mais forte do que a pretendida, provocando uma reversão na política monetária a partir de meados de 2011 para reanimar o nível de atividade, e levando à adoção de uma série de medidas defensivas, de espectro relativamente amplo, voltadas para o setor industrial, que simplesmente parara de crescer.
Depois de atingir 4,2% no 1º trimestre do ano, a taxa de crescimento do PIB passou a apresentar uma trajetória fortemente declinante, até atingir 2,1% no 3º trimestre de 2011, em relação ao mesmo período do ano anterior. Para a média do ano, as estimativas apontam para uma expansão do PIB de 2,8%, portanto, um pouco abaixo do patamar de 3% que, informalmente, o governo considera necessário para sinalizar, interna e externamente, que terá continuidade o ciclo pujante de transformações econômicas e sociais pelo qual vem se notabilizando o país desde 2004.
NordesteA evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), que busca antecipar os resultados do PIB, sintetiza o desaquecimento da economia brasileira no segundo semestre de 2011.
Depois de iniciar o ano de 2011 com taxa de crescimento de 4,81%, o IBC-BR, já livre de efeitos sazonais, desacelerou fortemente a partir de agosto (situação agravada por problemas de estoque na indústria automobilística), atingindo o fundo do poço no mês de outubro, quando o crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior se limitou a 0,4% (ver Gráfico 1). Nos meses de novembro e dezembro, já como resposta aos estímulos da política monetária, o IBC-BR ensaiou uma retomada moderada.
A desaceleração do nível de atividade também atingiu a economia dos estados nordestinos. As medidas de restrições ao crédito, a elevação na taxa de juros, a moderação na expansão dos gastos federais, o crescimento mais modesto do salário mínimo e a piora nas expectativas levaram a que a economia da região tivesse, também, uma forte desaceleração, que foi agudizada pelo impacto do aumento das importações de têxteis e de calçados sobre a sua produção industrial.
Ainda assim, durante todo o ano, a taxa de crescimento do IBC-NE se manteve acima do IBC-BR, como mostra o Gráfico 1, o que antecipa para 2011 uma taxa de expansão do PIB também superior para o Nordeste.
Sergipe
Os dados de geração de emprego em 2011 mostraram uma evolução relativamente mais favorável do nível de atividade na economia sergipana, comparativamente à média do Brasil e do Nordeste. Para finalizar, são apresentados os dados de consumo de energia elétrica pela indústria sergipana (somado ao consumo livre dos grandes consumidores) e o consumo de gás natural pela indústria em Sergipe, comparando-os com o consumo de energia industrial no Brasil, todos com base na média trimestral móvel (ver Gráfico 2). É possível observar que no inicio de 2011, o consumo industrial (somado ao consumo livre) na área da Energisa e o consumo industrial de gás natural em Sergipe vinham crescendo em torno de 10%, enquanto o consumo industrial de energia no Brasil crescia 6,3%, taxas de expansão notáveis.
Ao longo do ano, ainda que o desempenho das variáveis de Sergipe tivessem se mantido, na media, em patamar confortável e sempre superior ao do Brasil, a desaceleração no ritmo de crescimento é fácil de ser observada. A evolução do ICMS em Sergipe, com valores já corrigidos pelo IPCA, confirma a desaceleração do nível de atividade no final do ano.
Fonte: Energisa: Consumo Industrial e Livre de Energia de Sergipe; EPE: Consumo Industrial de Energia no Brasil;
Abegas: Consumo industrial de Gás Natural.
O ano de 2012 inicia com a atividade econômica em ritmo moderado de crescimento. Ao longo do ano, o forte incremento do salário mínimo e as medidas de relaxamento às restrições de crédito já adotadas, com a defasagem temporal prevista, farão com que a trajetória se apresente invertida em relação a 2011: crescimento mais lento no primeiro semestre e mais acentuado no segundo, disseminado em todas as regiões. O mais importante é que, considerando os limites impostos pelo cenário externo, o compromisso das autoridades econômicas com o crescimento sustentado é notório.
Publicado no Jornal da Cidade em 04/03/2012
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