Ricardo Lacerda
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2013 surpreendeu positivamente até mesmo os mais otimistas a respeito da força da recuperação do nível de atividade econômica.
Na série sem efeitos sazonais, o PIB trimestral cresceu 1,53% na comparação com o 1º trimestre de 2013, o que significa que o PIB rodou nesse 2º trimestre ao ritmo de 6,3% em termos anualizados. Em qualquer das séries que se observe, o resultado ficou acima do esperado, refletindo a aceleração da retomada do crescimento. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a taxa de crescimento acelerou de 1,9% para 3,3%, entre o 1º e 2º trimestres (ver Gráfico 1). O PIB semestral cresceu 2,6%, o melhor resultado desde o terceiro trimestre de 2011. Na série de quatro trimestres, a expansão acelerou de 1,2% para 1,9%.
Na série que compara com o mesmo trimestre do ano anterior, todos dos resultados desde meados de 2012 mostram aceleração, ainda que bastante moderada, e não perda de ritmo (ver Gráfico 1). Nesse último trimestre, a curva ganhou nova inclinação.
Fonte: IBGE
Setorial
Um aspecto chama especial atenção. Dos pontos de vista setorial e dos componentes da demanda verificou-se uma mudança na qualidade do crescimento. Tanto na série em relação ao trimestre anterior, quanto em relação ao mesmo trimestre de 2012, a agricultura e a indústria cresceram mais do que o setor serviços e os investimentos mais do que o consumo das famílias e da administração pública (ver Gráfico 2).
O setor agropecuário em 2013 vem se recuperando das agruras enfrentadas no ano passado, quando estiagens no centro-sul e no nordeste fizeram o PIB setorial recuar 2,3%. Nesse primeiro semestre de 2013, o PIB agropecuário se expandiu notáveis 14,3%, e no 2º trimestre, 13%, na comparação com igual período do ano anterior. Mesmo a atividade industrial, que mais havia sido atingida pelo longo período do real valorizado, apresentou no 1º semestre de 2013 o primeiro resultado positivo, na série semestral, desde o final de 2011.
Os investimentos que vinham desacelerando desde meados de 2012 confirmaram a retomada recente. Na série sem efeitos sazonais é o terceiro trimestre seguido do crescimento dos investimentos e o segundo na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, mesmo com resultados modestos.
Fonte: IBGE
De qualquer ponto de vista, os resultados do 2º trimestre publicados na semana passada foram surpreendentemente bons. É possível que esses movimentos já reflitam os primeiros efeitos positivos do conjunto de medidas adotadas desde o final de 2011 voltadas para a desoneração da produção e sejam também uma parte da resposta, com a defasagem normal nesses casos, à mudança anterior do patamar do cambio, em maio de 2012.
Lanterna na proa
Não faltarão alertas de que os resultados do PIB do 2º trimestre mostraram uma tendência de retomada que não se sustentaria na segunda metade do ano. De fato, alguns indicadores têm sinalizado que teria havido um esfriamento na recuperação nos meses de julho e agosto, em parte por conta da queda de confiança por parte das famílias e dos empresários, em parte por conta das novas incertezas que emergiram com o anúncio da reversão da expansão monetária americana que antecipam elevações na taxa de juros com suas conseqüências no câmbio dos países emergentes, em parte devido ao agravamento do quadro político no oriente médio.
Considere-se, todavia, que caso se concretizem os renovados vaticínios pessimistas daqueles que não reconheciam nos últimos meses que a recuperação estava em curso e o PIB vier a estacionar nos 3º e 4º trimestres, ainda assim, a série livre de efeitos sazonais apontará uma taxa de crescimento de 2,5% em 2013.
O resultado do PIB de 2013 ainda não está dado. Mas o anúncio do PIB do 2º trimestre foi uma excelente notícia.
Publicado no Jornal da Cidade, em 01/09/2013
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