Ricardo Lacerda
Os mecanismos pelos quais os estímulos (e os desestímulos) à demanda agregada operam sobre o nível de atividade econômica das regiões nunca foram suficientemente investigados. A redução do IPI na aquisição de veículos, por exemplo, certamente tem impactos maiores sobre o nível de atividade nos estados que sediam as montadoras do que nos demais, ainda que não se saiba exatamente como se distribuem espacialmente os efeitos diretos e indiretos da medida.
No primeiro momento, perdem os estados mais pobres, com a redução de aporte de recursos para o FPE e FPM (fundos de participação dos estados e dos municípios, respectivamente), os maiores beneficiários dos fundos, enquanto os mais ricos não apenas deixam de ter o vazamento de renda com o recolhimento do tributo, como têm uma resposta mais imediata em termos de geração de emprego, recuperação do comércio e na arrecadação de ICMS.
Mas os efeitos não se limitam aos impactos mais diretos. A recuperação do nível de atividade da indústria automobilística pode ajudar a reverter o marasmo econômico atual e afastar os riscos da estagnação, e termina, por uma multiplicidade de canais, repercutindo positivamente no nível de atividade dos estados mais pobres, ainda que menos do que proporcionalmente.
Oscilações no câmbio, na taxa de juros, no volume de crédito, nos gastos públicos, aumentos reais no salário mínimo etc repercutem de formas distintas entre as regiões, mesmo considerando que o grau de integração produtiva e comercial entre elas e os mecanismos de transferências de renda funcionem como contrapeso, e venham assegurando taxas de crescimento relativamente próximas entre os estados da federação.
Nordeste
Desde o inicio do ciclo expansivo, em 2004, as regiões mais pobres vêm apresentando taxas de crescimento mais elevadas do que as alcançadas nos estados mais industrializados. Gastos federais em infraestrutura, elevação real do salário mínimo, expansão do crédito, bancarização da população e diversas modalidades de transferência de rendas foram alguns dos mecanismos que incidiram mais intensamente no Norte, Nordeste do que nas regiões Sul e Sudeste. O crescimento do Centro-Oeste é ainda estimulado pela valorização das commodities no mercado internacional.
Quando em 2008 a crise financeira internacional impactou fortemente o nível de atividade interna, a resposta do governo brasileiro centrada no estímulo ao mercado de consumo novamente favoreceu as economias das regiões mais pobres, mas isso não significou que o setor produtivo delas não tenha sido afetado.
Indústria
Ainda que as variáveis de consumo e de geração de emprego tenham apresentado resultados melhores no Nordeste do que na média do país, o mesmo não aconteceu com as de produção industrial. Com a recidiva da crise a partir do segundo semestre de 2011, a atividade industrial da região voltou a ser fortemente atingida (ver Gráfico).
Fonte: IBGE-PIM. Série livre de efeitos sazonais
No 3º trimestre de 2011, a produção física da indústria do Nordeste caiu 1,3%, frente ao recuo de 0,8% da média nacional, na série livre de efeitos sazonais. No último trimestre do ano, a queda foi de 1,9%, contra a retração de 1,6% da indústria nacional. Há uma reversão positiva, todavia, no 1º trimestre de 2012, por conta do desempenho da indústria química e de minerais não metálicos.
O impacto da crise foi intenso na indústria do Nordeste principalmente por conta da forte especialização que a indústria da região assumiu desde os anos noventa com a massiva atração de empresas dos segmentos de calçados e têxteis, pressionadas pela concorrência com os produtos importados. Pelo mesmo motivo, os efeitos têm se concentrado nos estados do Ceará e do Rio Grande, com elevados graus de especialização nesses segmentos.
Fonte: IBGE-PIM.
Com o câmbio valorizado, o agravamento do cenário externo desde meados de 2011 provocou enormes perdas nessas atividades. Nos últimos doze meses encerrados em março de 2012, a produção física da indústria têxtil nordestina recuou 22,17% e a de calçados 9,87% (ver Tabela). Na média, a indústria de transformação recuou 2,1%. No 1º trimestre de 2012 esboçou-se uma reação da indústria nordestina, com crescimento de 4,4%, na comparação com o 1º trimestre do ano anterior, mas os segmentos de bens não duráveis permanecem em dificuldade e, com isso, os estados mais especializados nesses segmentos vêm sofrendo os maiores impactos, enquanto outros estados da região têm sido relativamente menos afetados.
Publicado no Jornal da Cidade em 27/05/2012
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