São Paulo no centro da crise
Economia

São Paulo no centro da crise


Ricardo Lacerda

São Paulo continua exercendo papel central na economia brasileira. Não apenas por contar com os principais polos de negócios e sediar os setores econômicos mais modernos e de maior produtividade como pelo papel que exerce de articular as atividades econômicas em todo o território nacional.

O estado é o maior parceiro comercial, ou um dos principais, de quase todos os estados da federação. O nosso estado de Sergipe, de pequenas dimensões territorial, populacional e econômica, tem com São Paulo e Bahia os principais fluxos de venda e compra de mercadorias.

São Paulo responde por cerca de 1/3 do PIB brasileiro e um pouco mais de 40% do valor da produção da indústria de transformação (2012), enquanto representa 22% da população (2010). No setores mais modernos da atividade industrial, participa com mais da metade do valor produzido no país.

Na medida em que setor moderno foi abrindo novas fronteiras de expansão no território brasileiro, realizou-se certo espraiamento de tais atividades entre estados e regiões. Todavia, a redistribuição foi de magnitude relativamente limitada e jamais ameaçou a liderança e o papel central que a economia paulista exerce no desenvolvimento do país.

Trajetória

Seja por seu peso no PIB, seja por seu papel integrador das principais cadeias de produção e comercialização de bens e serviços, o comportamento da economia de São Paulo é um termômetro do que está acontecendo na economia brasileira e algumas vezes antecipa a trajetória dos demais estados.  

O amplo processo de inclusão social, acompanhado pelos investimentos em infraestrutura e pela geração do emprego formal, fez com que as áreas mais pobres do país apresentassem taxas de crescimento do poder de compra e do PIB mais elevadas do que as regiões mais ricas e industrializadas.

Mesmo com o crescimento da renda, do emprego e do PIB mais acelerado nos estados das regiões mais pobres, não há descolamento de suas trajetórias econômicas com a média do Brasil e com a economia de São paulo, a não ser no período mais recente, pós-2011. Em movimento simultâneo ou com alguma defasagem de tempo, as trajetórias do nível de atividade econômica daquelas regiões findavam seguindo as oscilações da economia paulista.

IBC e Produção Industrial

A crise industrial, que se acentuou nos últimos dois anos, mesmo atingindo todo país, se revelou muito mais aguda em São Paulo e provocou o descolamento entre as trajetórias das economias das regiões mais pobres em relação a de São Paulo. Ver as curvas de crescimento em doze meses do Índice de Atividade do Banco Central para o Brasil, São Paulo, Norte e Nordeste (Gráfico 1) e da produção física da indústria em doze meses para o Brasil, São Paulo e Nordeste (Gráfico 2).

A região Nordeste sentiu muito menos do que São Paulo e do que a média do país os efeitos do segundo mergulho da economia mundial na crise, a partir de meados de 2011. O nível de atividade da região se manteve em crescimento considerável mesmo no período mais recente (depois de meados de 2013) quando a crise de confiança se instalou na economia brasileira.

A trajetória da média da economia brasileira manteve-se colada com a de São Paulo, com alguns afastamentos temporários. Nos últimos dois anos, todavia, a trajetória da economia de São Paulo apontou fortemente para baixo, em um primeiro momento desacelerando e depois, a partir do segundo semestre de 2014, passou a apresentar queda no nível de atividade. A média da economia do país foi arrastada para baixo, junto com São Paulo, ainda que em magnitude menos pronunciada.

Há o temor das lideranças políticas das regiões mais pobres de que as ações que propiciaram o relativo descolamento de suas economias da crise estejam sendo abandonadas exatamente nesse momento pelo conjunto de medidas do ajuste fiscal.

Fonte: Banco Central do Brasil


Fonte: IBGE-PIM


Publicado no Jornal da Cidade, em 10 de maio de 2015



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