KEYNES E KEYNESIANOS.
Economia

KEYNES E KEYNESIANOS.


Direto da FOLHA DE S. PAULO, os conselhos de Delfim Netto.

Os problemas fiscais dos EUA e da Eurolândia só podem ser resolvidos com a volta do crescimento. O fundamental é que este não se faça aprofundando-os ainda mais. Quando se recomenda que as medidas de estímulo temporárias que foram decisivas para paralisar o desastre sejam transformadas em permanentes, estamos diante de uma não solução.

Para entender isso consideremos que no curto prazo a oferta global física de bens e serviços produzidos no país é praticamente constante. O seu uso depende da demanda global física. Esta, por sua vez, é constituída pela soma da demanda pública e da demanda privada interna e externa.

Quando se reduz, por qualquer motivo, a demanda privada (crise de crédito, desastres naturais, ataque de pessimismo), a manutenção do nível de atividade depende de um aumento equivalente da demanda pública.

Enquanto a demanda privada não se recupera, a demanda pública deve continuar. Isto não se faz sem graves prejuízos para o equilíbrio fiscal, para o nível de inovação e a produtividade do sistema produtivo, porque a demanda estimulada pelo gasto público em transferência não produz incentivos adequados para o aumento da produtividade do trabalho.

O keynesianismo bastardo incorporado na síntese neoclássica dos livros-texto sugere que a retirada dos "estímulos" governamentais reduzirá necessariamente a demanda privada. Agravar-se-ia, portanto, a redução do nível do PIB e do emprego. Logo, não há solução para o problema. Mas será assim mesmo?

A resposta se resume na "expectativa" que se formará no setor privado como resposta ao programa de restabelecimento do equilíbrio fiscal (condição necessária para o crescimento robusto no longo prazo).

Keynes e Pigou (seu amigo e posterior vítima) intuíram em 1931 que, se o ajuste fosse feito de maneira segura e crível, o aumento da demanda privada (despertada pelas oportunidades vistas pelo "espírito animal" dos investidores) poderia suprir a deficiência da demanda pública.

Teríamos a volta do crescimento juntamente com a solução do problema fiscal, o que é hoje empiricamente reconhecido. A reforma crível inclui: 1) um ajuste pelo lado das despesas (nada de aumento de impostos); 2) incentivos ao uso do trabalho; 3) medidas de flexibilização dos mercados; 4) estímulo à concorrência e 5) uma desvalorização cambial.

A Alemanha acumula credibilidade e essas condições. Com a desvalorização do euro, seu programa levará, provavelmente, a um crescimento mais robusto. Será a melhor contribuição que pode dar à Eurolândia.



loading...

- Uma Relação Tão Delicada
Na semana passada o Fundo Monetário Internacional publicou a versão mais recente do seu World Economic Outlook (WEO, Panorama Econômico Mundial), documento em que discute as perspectivas para a economia global e explora alguns temas atuais de política...

- A Receita De Delfim Para O Caos.
Antonio Delfim Netto, no Valor Econômico de hoje e sua receita para o caos. Como sempre, uma ótima leitura. O mercado é a manada, é a imitação Houve novidade na última semana? Nenhuma! Talvez apenas a confirmação que a "racionalidade" dos...

- Incertezas Com Delfim Netto.
ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre “Incertezas”. Uma boa parte das divergências de diagnóstico entre os economistas brasileiros refere-se às incertezas sobre como distinguir, inequivocamente, se estamos diante de...

- Delfim Netto: Receita Para O Caos - Valor Econômico
Houve novidade na última semana? Nenhuma! Talvez apenas a confirmação que a "racionalidade" dos agentes no mercado é a mesma dos carneiros de Panurge, o célebre personagem criado por Rabelais: tendo sido um deles jogado ao mar, foi fielmente seguido...

- Crescimento Econômico Sem Milagres
Crescimento econômico sem milagres Por Antony Mueller Na estatística oficial do crescimento econômico não se faz distinção entre o crescimento econômico sustentável, que representa uma expansão da capacidade produtiva e um aumento da produção...



Economia








.