No que tange à questão alimentar, a preocupação dirige-se ao fato de que os preços registrados no ano de 2007 foram recordes - cerca de 50% maior do que em 2006 – causando diversos eventos de instabilidade política ao redor do globo, a saber: no México e na Itália, respectivamente, em março e setembro, tanto quanto a manutenção da política de subsídios, a qual compromete o andamento da Rodada Doha e é motivo de contendas mil no âmbito da OMC. Contudo, o objetivo principal é a obtenção da segurança alimentar, descrita pela FAO (em tradução livre, Organização para Agricultura e Alimentação) como "o momento quando todas as pessoas, a qualquer hora, dispõem de acesso físico e econômico (capacidade de pagar) a um alimento nutritivo, seguro e suficiente para alcançar suas necessidades diárias". Mas quem são os responsáveis pela não obtenção desse intento? Em parte, o uso crescente das oleaginosas na produção de biocombustíveis (cerca de 30% do milho, até 2010, nos EU, será destinado a essa atividade, para se exemplificar) e, outrossim, as modificações já prementes do aquecimento global (no ciclo das chuvas e na ocorrência de eventos climáticos), o que pode reduzir a capacidade produtiva da África e Ásia em porcentagem correspondente a 40%.
A globalização econômica transforma as estruturas operacionais de governos e indústrias, sendo que a combinação alocativa de recursos escassos com melhorias na tecnologia e logística global, além da redução das barreiras comerciais, conduziu a um crescimento maior do comércio global em cotejamento com o PIB nos últimos 20 anos. Há de se esperar uma fragmentação incisiva na localização dos fornecedores, obrigando a um comprometimento multilateral no desenvolvimento de políticas organizacionais, impedindo que eventos isolados (como a variação de preços nos semicondutores advindos de Taiwan quando de um terremoto) causem contágio para outras instâncias da cadeia de negócios. Segundo pesquisa da Marsh Inc, empresa de consultoria, com 62 empresas com base na Ásia, foi constatada que somente 21% delas possuem um plano de contingência contra desastres naturais e ataques terroristas. Isso indica claramente que a bonança global está sustentada em pilares inseguros (tanto a estrutura financeira securitizada como também a logística ainda disforme dentre os componentes do comércio internacional).
O aumento do preço de petróleo a um nível não registrado desde a década de 80 (ajustado pela inflação) mostra que, além da influência ainda onipotente da OPEP, a variação da oferta não é idêntica a da demanda, isto é, os investimentos atuais dispensados não cobrem as necessidades do ainda pujente crescimento econômico mundial. Há estimativas de que o valor a ser depreendido pelas empresas petrolíferas na manutenção e aumento de capacidade produtiva (100 milhões de barris por dia, em um período de 30 anos) é de 11.6 trilhões de dólares. No entanto, a demanda será de 116 milhões em 2037, o que gera preocupação latente. No que tange a outras energias, temos o carvão (que é altamente poluente mas de viabilidade econômica, com diversas reservas), o gás (fator de intensas disputas políticas, a saber: distribuição do gás na Europa, pela Rússia, e centralidade de reservas em países do Oriente, como Kuwait e Irã, ou a energia nuclear, que ainda resvala nos problemas de alocação de dejetos, medo de catástrofes com a de Chernobyl ou mesmo da construção de novas ogivas nucleares, mesmo sendo limpa na questão da emissão de carbono.
Afora uma pequena dose de realismo (com queda pessimista) abordado do relatório, a consciência de que os procedimentos empreeendidos tanto no âmbito privado e público não serem suficientes para dirimir os riscos gerais a que os indivíduos são expostos é fundamental na caminhada para uma estrutura globalizante de cunho igualitário e desenvolvimentista. Todos os aspectos supracitados são relevantes para a intenção maior do crescimento econômico não restrito a índices brutos, mas o marcado na face das pessoas.