Economia
Economia doente. Somente na Argentina?
Matéria
do economista Daniel Altman na FOREIGN POLICY e publicada hoje no ESTADÃO afirma que é
difícil saber se o peso argentino aguentará até a chegada de um novo
presidente, em 2015; e se o governo chegará até lá.
A
dois anos de deixar o cargo, a presidente Cristina Kirchner mantém a economia
argentina à beira de uma crise cambial. Conseguirá o peso sobreviver até a
chegada de um novo presidente? O governo vem gastando rios de dinheiro com o
efeito colateral de uma inflação anual acima de 20%, o que tem sido repetidamente
negado de maneira quase cômica.
Como
que para provar que a inflação não poderia estar tão alta, o Banco Central (BC)
argentino defendeu o peso numa taxa de câmbio artificialmente forte ante o
dólar. Essa política fez o BC dilapidar suas reservas, vendendo dólares para
sustentar o peso, enquanto o governo limitava rigidamente a capacidade de os
argentinos comprarem dólares a uma taxa favorável e tirá-los do país. Surgiu um
mercado negro - o dólar valia ontem 5,83 pesos, e no paralelo chegava a 9,62.
Nos
últimos anos, o BC apoiou-se nos superávits comerciais para sustentar suas
reservas. Mas esses superávits, que chegaram a 2,5% do PIB em 2009, basicamente
desapareceram. Aliás, o FMI prevê que a Argentina enfrentará déficits
comerciais em todos os anos de 2013 a 2018.
Esses
déficits continuarão a corroer as reservas, assim como os pagamentos de juros
de dívidas pendentes da Argentina, para os quais o governo recorreu ultimamente
ao BC. O investimento estrangeiro na Argentina ajudaria a trazer mais moedas
fortes, mas o país tem ficado atrás de seus vizinhos Chile e Uruguai na atração
de dinheiro.
Na
primavera de 2009, as reservas equivaliam a cerca de 1,8 vez a base monetária
da taxa de câmbio oficial. Desde então, a relação se reduziu acentuadamente,
estabilizando-se em cerca de 0,65 em setembro. Ironicamente, talvez, esse valor
está pouco abaixo do nível de 0,67 que o BC foi encarregado de manter antes da
desastrosa crise que começou em 2001.
Evidentemente,
a taxa de câmbio atual é insustentável no longo prazo. Mas será sustentável até
2015? Se o BC conseguir chegar lá, a Argentina poderia conseguir um raro pouso
suave. Todos os prováveis candidatos presidenciais - Mauricio Macri, Sergio
Massa, Daniel Scioli e Elisa Carrió (ou um de seus aliados) - condenaram a
inflação galopante que está destruindo o valor do peso. Em graus variados,
eles estão todos comprometidos com a conversão da economia de um laboratório de
cientista louco em uma parte mais transparente e integrada do sistema
financeiro global.
Uma eleição bem-sucedida
trará uma inundação de capital estrangeiro e um fortalecimento da economia,
fortalecendo as reservas do BC e o peso. Os gastos públicos, a impressão de
dinheiro e a inflação diminuiriam. Os preços das ações e valores dos ativos aumentariam.
Seria preciso apenas, talvez, uma desvalorização gradual do peso.
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