Troca-se Imóveis por Dólares em Buenos Aires - Valor Econômico
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Troca-se Imóveis por Dólares em Buenos Aires - Valor Econômico



Katy McLaughlin (The Wall Street Journal apud Valor, 03/05/13) informa sobre os negócios imobiliários em dólares em Buenos Aires. Apartamento de um quarto no sofisticado bairro da Recoleta tem por US$ 130.000 – moeda mais usada nos negócios imobiliários em Buenos Aires – entre os disponíveis para comprar como um imóvel de férias.  Com os preços dos apartamentos de luxo entre 20% e 25% mais baixos que no ano passado, segundo corretores locais, estrangeiros estão encontrando grandes oportunidades em Buenos Aires após quase dez anos de preços em alta.
Bons apartamentos reformados, com terraço, na Recoleta, o bairro que deu à Buenos Aires o apelido de “a Paris da América do Sul”, estão sendo vendidos por cerca de US$ 2.000 o metro quadrado, 23% a menos do que em 2008, segundo estimativas de corretores da cidade. Não é prudente aqueles turistas que desejam comprar apartamento no Rio de Janeiro por cerca de US$ 7.500 o metro quadrado reconsiderar o custo de oportunidade?
A diferença entre o dólar oficial e o paralelo tem aumentado desde o fim de 2011, quando o governo começou a adotar medidas restritivas para a compra da moeda americana, tentando impedir a fuga de capitais do país. Comoesse é o principal meio de reserva para os argentinos, a corrida pelo dólar desenfreou-se e, a cada nova medida anunciada pelo governo, tornou-se mais acirrada. Em 2013, o paralelo (ou “blue“, como se chama na Argentina) já subiu 47%. Hoje, para comprar dólares pelo preço oficial na Argentina, é necessário comprovar renda, a realização de alguma viagem internacional e informações sobre destino e tempo de estada. Mesmo assim, só é possível adquirir um valor determinado, geralmente muito restrito. Recentemente, o governo anunciou novas taxas para quem retira dólar com cartão de crédito no exterior, causando a nova corrida.

A atividade mais afetada pela alta do paralelo é a imobiliária, que se regula praticamente apenas por meio da moeda norte-americana. O mercado imobiliário divulgou números do primeiro trimestre do ano de 2013, que sinalizam uma queda de 41% das vendas!Apartamentos de um quarto na moderna Palermo são anunciados por cerca de US$ 150.000 e vendidos por menos. Corretores oferecem apartamentos entre US$ 200.000 e US$ 400.000 que afirmam que poderiam ter vendido por 40% mais há dois anos. Em alguns imóveis de milhões de dólares, o valor chega à metade do cobrado só alguns anos atrás.
Mas há um problema para os novos compradores no mercado portenho, como a viagem de Chapman mostrou. “Na verdade, preciso reduzir minha estada porque estou ficando sem dólares e não posso comprar mais”, disse ele.
Para os compradores estrangeiros, lidar com o complicado cenário do câmbio na Argentina é a grande questão. Há um ano, a presidente Cristina Kirchner limitou rigidamente o acesso a dólares e outras moedas estrangeiras em tentativa de conter a fuga de capitais do país. Com o peso argentino enfrentando uma inflação anual de cerca de 25% (dados do governo, amplamente questionados, indicam um índice muito menor) e uma taxa no câmbio negro que na prática desvalorizou fortemente o peso, a demanda por dólares é grande.
A principal característica que os compradores estrangeiros dizem buscar hoje num imóvel em Buenos Aires não tem nada a ver com closets ou espaços amplos. É um vendedor com uma conta bancária no exterior, para onde eles possam transferir o dinheiro legalmente. Esta é a forma de contornar a conversão obrigatória dos dólares em pesos pela taxa oficial quando o dinheiro é transferido para o país, depois do que é praticamente impossível convertê-lo de novo em dólar por essa mesma taxa.
A situação do câmbio tem assustado alguns estrangeiros que vivem na Argentina. O corretor de imóveis Pericles Economides disse que os estrangeiros donos de imóveis formam mais de 90% da sua lista de vendedores, enquanto os compradores locais ávidos por transferir seus pesos desvalorizados para o mercado imobiliário, que é mais estável, compõem quase que a totalidade de seus compradores atuais.
O construtor Gabriel Maioli, sócio da M&M Developers, em Buenos Aires, começou a vender apartamentos novos em pesos pela primeira vez no ano passado, mas disse que oferece descontos para quem pagar em dólar.
Entre os apartamentos à venda está um de 855 metros quadrados no 14º andar no edifício Kavanagh, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade. O dono, o magnata imobiliário Alain Levenfiche, colocou o imóvel à venda em 2008 por US$ 5,9 milhões, mas não conseguiu vendê-lo. Hoje, ele está pedindo US$ 3,3 milhões. [Tá vendo?! Uma pechincha...]
Alan Dickinson, um executivo do setor de tecnologia de Nova York de 50 anos, está procurando um segundo imóvel para comprar em Buenos Aires. “Em que outra cidade cosmoplita você pode comprar imóveis desse porte por esses preços?“, pergunta ele.
Em 2005, ele pagou US$ 185.000 por um duplex novo com terraço em Palermo, entregue em 2009 após atrasos na construção. Ele passa uma semana a cada dois meses no apartamento e o aluga para turistas no resto do tempo. Em quatro anos, ele já ganhou mais do que pagou pelo imóvel.
Mas com as restrições às moedas estrangeiras, muitos negócios estão sendo desfeitos no último minuto, disse Michael Koh, um investidor imobiliário e consultor que já fez mais de 500 transações imobiliárias em Buenos Aires em nome de clientes. Em abril, duas vendas que Koh estava negociando em nome de vendedores estrangeiros naufragaram quando um comprador argentino quis pagar com barras de ouro e outro ofereceu um estúdio como parte do pagamento.
Os obstáculos não o impediram de investir. Koh comprou na semana passada seu nono apartamento na cidade, que pretende alugar para turistas. Ele pagou US$ 130.000 por um apartamento de um quarto, mobiliado e com terraço, que tem 46 metros quadrados e fica no bairro Palermo Hollywood.
“Jurei que nunca compraria nada lá novamente”, disse ele, “mas agora existem algumas ofertas que são boas demais para deixar passar”.



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