Desafios e perspectivas para 2011
Economia

Desafios e perspectivas para 2011


Ricardo Lacerda

Confirmando-se a previsão de mercado da semana passada, o crescimento do PIB brasileiro de 2010, de 7,61%, será o mais elevado desde 1985, quando atingiu 7,85%. A produção industrial deverá encerrar o ano com taxa de crescimento acima de 10%, a maior desde 1993, ainda no Governo Itamar. A geração do emprego formal se situará em torno de 2,13 milhões de empregos, o segundo melhor resultado da série histórica do CAGED/MTE, inferior apenas ao de 2007, quando forem criados 2,45 milhões de empregos.

O crescimento do volume de vendas no varejo, 11,09% até outubro, é o melhor da serie histórica iniciada em 2000. A taxa de desocupação de novembro passado atingiu 5,7%, e é também a melhor da série histórica. Muitos outros indicadores do nível de atividade econômica poderiam ser apresentados para caracterizar a excepcionalidade do ano de 2010.

A inquietação natural é se o Brasil poderá repetir em 2011 resultados tão positivos. Um primeiro aspecto a destacar é o de que, após uma expansão exuberante no inicio do ano, o PIB brasileiro vem se desacelerando ao longo de 2010. Depois de ter crescido 2,3% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2009, na série livre de efeitos sazonais, a expansão do PIB desacelerou para 1,8% no segundo trimestre, e para 0,5% no terceiro trimestre.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a expansão do PIB, que havia atingido 9,3% no primeiro trimestre e 9,2% no segundo trimestre, desacelerou para 6,6% no terceiro trimestre. (Ver gráfico 1). A projeção de mercado para o crescimento do PIB em 2011 é de 4,5%.

Fonte: IBGE- Contas Nacionais Trimestrais.

Crescimento potencial
A mudança de patamar de expansão do PIB de 7,61%, em 2010, para 4,5%, em 2011, suscita uma série de questões, relacionadas ao chamado crescimento potencial da economia brasileira. Deve-se considerar que o crescimento de 2010 se deu sobre a base rebaixada de 2009, quando o PIB recuou 0,6%, e o crescimento projetado para 2011 incidirá sobre um patamar elevado.
A noção de crescimento potencial diz respeito à expansão que a economia pode ter sem provocar pressão inflacionária que fuja ao controle ou desequilíbrio que ameace a sustentabilidade das contas externas. Quando o crescimento verificado extrapola esse limite, nem sempre claramente definido, resta às autoridades econômicas puxar o freio de mão da economia por meio das políticas fiscal e monetária, provocando a desaceleração do nível de expansão da atividade.

O crescimento excepcional da economia brasileira em 2010, quando a economia dos países avançados continua estagnada, refletiu às medidas adotadas pelo governo para se contrapor à onda recessiva que a ameaçava. No momento agudo da crise de confiança, ainda em 2008, o governo respondeu com aumento dos gastos públicos e com a redução de impostos sobre o consumo.

Na sequência, a expansão da demanda das famílias empurrou o crescimento da economia. Essa resposta, a única possível naquele contexto, fez com que a demanda corresse à frente da oferta, refletida, no front interno em uma piora nas contas públicas, e, no front externo, em uma deterioração do saldo da conta corrente. Mais recentemente, o governo respondeu com medidas restritivas ao crédito e acenos de redução nos gastos públicos para 2011 para enfrentar o aumento de pressões inflacionárias. O gráfico 2, a seguir, mostra como o déficit nas transações correntes do Brasil com o exterior em doze meses vem se ampliando e os efeitos da pressão de demanda sobre o comportamento do IPCA.

Fonte: IBGE- IPCA; Banco Central do Brasil- Déficit em Transações Correntes

O grande desafio da política econômica brasileira em 2011 é o de manejar gastos públicos, juros e câmbio de forma a assegurar a continuidade nas trajetórias de expansão do emprego e do mercado interno, quando limites externos e internos mais estreitos precisam ser observados.

A conjuntura econômica internacional ainda fragilizada não ajuda, mas o passado recente mostrou que, com responsabilidade, a expansão do mercado interno pode continuar sendo o sustentáculo do crescimento da economia brasileira nos próximos anos. O próximo passo é o de desenvolver inovações financeiras que assegurem a expansão sustentada dos investimentos a fim de alargar o potencial de crescimento brasileiro.

Publicado no Jornal da Cidade, em 02/01/2011
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