Todo o problema iniciou-se em meio à ultima recessão americana, que data do inicio dos anos 2000. Ficou convencionado que recessão é definida pelo crescimento negativo do produto de um país por dois ou mais trimestres, sendo que se esta recessão for muito brusca e ocorrer por um maior período de tempo tem-se uma depressão. Neste sentido não sei por que foi chamada de recessão, pois os dados não mostram crescimento negativo em nenhum trimestre, apenas estagnação. Enfim...
O banco central americano resolveu combater a recessão por meio de uma diminuição do fed funds (taxa básica de juros do país), o que fez com que houvesse um boom de consumo e crédito no país. Com a explosão de crédito, ou seja, de uma abundante liquidez na economia americana, tornava-se cada vez mais fácil obter financiamentos.
Para o espanto de alguns há de se destacar que não é apenas no Brasil que existem maus pagadores, mas tanto nos Estados Unidos, como em qualquer outra parte do mundo também. Em virtude disso, o mercado americano de hipotecas é dividido em duas categorias: prime e subprime. Os primeiros pagam menores taxas de juros, em torno de 5.5% a.a. e os subprime 12% a.a., em virtude da sua capacidade duvidosa de pagamento.
Cabe aqui fazer um adendo: Um aspecto muito interessante do mercado hipotecário americano é de que, caso o valor do ativo que hoje vale U$100.000 sofra valorização de digamos U$50.000, quem possui tal imóvel pode sacar em dinheiro os cinqüenta mil que valorizaram e utilizá-los da forma que bem entender. É conhecido como “efeito riqueza.”
Neste sentido, com os juros (fed funds) em torno de baixíssimos 1% a.a., a concessão de empréstimos a maus pagadores expandiu-se de uma forma avassaladora. Entretanto, passando-se a época do PIB “murcho”, com o consumo elevado, surgiu a preocupação relacionada à inflação. Então o Fed foi obrigado a aumentar a taxa básica de juros de forma contínua, para o atual patamar de 5,25%. Dessa forma, os maus pagadores viram-se na incômoda situação de pagar uma taxa mais elevada (já que, ao contrário dos primes, ela é pós-fixada) por seus imóveis. Então, uma boa parcela dos subprimes, corroborando com a fama que possuíam, seja ela por uma renda baixa ou qualquer outro fator, deixaram de pagar suas hipotecas. É exatamente este o núcleo do problema.
Geralmente, ativos com risco elevado são aqueles que têm o maior prêmio, ou seja, seus juros são maiores. Neste sentido, torna-se mais atrativo para os gestores de fundos comprarem os títulos vinculados às hipotecas de alto risco. Como o risco é elevado, securitiza-se o título, ou seja, vende-se a um banco comercial, onde este assume o risco e paga uma taxa de juros menor (porém não muito) para quem possuía o título. O título volta novamente ao mercado, caindo possivelmente nas mãos de outro gestor, gerando, dessa forma, um efeito em cascata.
Entretanto, caso o tomador não consiga pagar sua dívida inicial, inicia-se um ciclo de não recebimento dos compradores dos títulos. O resultado é de que o mercado fica receoso para emprestar e comprar os títulos subprimes, gerando uma retração de crédito, a famosa redução de liquidez. Isso fez com que os principais bancos centrais do planeta (Fed, European Central Bank e Bank of Japan) liberassem bilhões de dólares nas suas respectivas economias, no intuito de que, caso houvesse menos crédito disponível, ocorra diminuição no consumo e consequentemente um menor crescimento do PIB.
No final, vê-se que os investidores em ações decidem vender seus ativos de risco elevado e investir em posições mais seguras, como, por exemplo, renda fixa. O desfecho final (por enquanto) é de que os investidores estrangeiros (maior parte da Bovespa) vendem os papéis que possuem no Brasil e em outras partes do mundo, cobrindo, dessa forma, as perdas que vinham enfrentando.
Ah! Cabe ressaltar que o mito da desvalorização dos imóveis NÃO é verdadeiro (até o presente momento). Eles apenas pararam de se valorizar.
Resta apenas esperar por mais notícias desta novela. To be continued...