Uma resposta
Economia

Uma resposta


"qual sua opiniao sobre o cambio de equilibrio de 2,60 no estudo da Goldman?"

Se o que a GS fez foi o que eu imagino que tenha feito, eu acho o exercício muito limitado.

Acredito que a GS fez uma conta de PPC para o real, isto é, ajustou a taxa de câmbio ao longo de determinado período pelo diferencial de inflação Brasil-EUA e calculou uma média. Eu tenho essa conta pronta, que chega a uma média (de Jan-80 a Out-09) de R$ 2.64/US$ a preços de outubro deste ano, bastante parecida com o número da GS, de onde imagino que tenham feito o exercício para um período similar, usando dados similares (eu usei como medidas da inflação o INPC para o Brasil e o PPI para os EUA, já que o INPC tem uma medida maior de bens não-comercializáveis e o PPI de bens comercializáveis).

Assim, no câmbio médio de R$ 1,738/US$ observado em outubro o real precisaria de uma desvalorização de 52% para voltar à média de R$ 2,84/US$.

Isto dito, vamos aos problemas. A começar pela definição da taxa de câmbio relevante. A GS trabalha com R$/US$, mas o Brasil comercia com outros países. O que acontece com o real relativamente a uma cesta representativa de moedas?

Usando a cesta calculada pelo Ipea (http://ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?SessionID=204866813&Tick=1258662006535&VAR_FUNCAO=Ser_Fontes%28407%29&Mod=M) o desvio com relação à média histórica é muito menor. Em setembro deste ano (os dados para outubro não estão disponíveis, mas a diferença é pequena), o índice (2005=100) foi calculado em 91,53. A média desde Jan-80 é 96,13, ou seja, a desvalorização requerida para trazer o câmbio à sua média histórica relativamente à cesta de moedas seria algo como 5%. No caso da taxa bilateral para Set-09, a desvalorização requerida seria da ordem de 45%, cerca de 9x MAIOR.


Confesso que a diferença de magnitude parece grande demais, mas, até onde vi, o cálculo da cesta do Ipea é correto (e, como usa os pesos de 2001, quando os EUA representavam algo como 24% das exportações brasileiras, quando hoje são pouco menos de 11%, não parecem estar subestimando o peso do dólar, pelo contrário). De qualquer forma, pelo estudo do Ipea, o real não estaria tão sobrevalorizado como o estudo da GS sugere.

Segundo, não há menção a termos de troca, enquanto a teoria sugere uma relação inversa entre a força da moeda e os termos de troca, isto é, a moeda se aprecia quando os termos de troca melhoram (preço das exportações se eleva relativamente ao preço das importações) e vice-versa.

Também não há menção às condições de financiamento externo (por exemplo, risco-país), que também fazem parte da definição de taxa de câmbio de equilíbrio (se eu não tenho acesso algum a capital – pense no Brasil da moratória – e, portanto, preciso gerar equilíbrio ou superávit em conta-corrente, meu câmbio de equilíbrio é um; se tenho acesso é outro). Sem contar que as próprias condições de financiamento externo não necessariamente refletem apenas condições internacionais, mas desenvolvimentos domésticos, como, por exemplo, solvência, ou qualidade de política econômica.
Resumindo, o cálculo de PPC deixa fora da determinação da taxa de equilíbrio fatores que têm, em princípio, um papel relevante da definição da taxa. Por este motivo é que tenho insistido que não se pode pensar na taxa de equilíbrio como uma grandeza fixa, mas sim como algo que depende de termos de troca, condições internacionais de liquidez, fundamentos domésticos, etc.

Vale dizer, eu não ponho muita fé neste tipo de coisa, pelo menos não em horizontes mais curtos. Se há motivo para crer em reversão à média de termos de troca, por exemplo, aí faria sentido, mas nesse caso a discussão vai muito longe.



loading...

- Valorização Cambial? (ii)
Em uma postagem anterior, usando informações do IPEADATA, se mostrou que a taxa de câmbio efetiva real está atualmente próxima da sua "média histórica", sugerindo que a preocupação de muitos analistas com uma valorização "excessiva" do real...

- Valorização Cambial? (i)
Quão apreciada está a taxa de câmbio no Brasil? O gráfico acima, extraído do IPEADATA, oferece algumas pistas. A comparação da taxa de câmbio efetiva real* em dezembro de 2006 com dezembro de 2004 mostra uma valorização de 20% nos últimos...

- Para Pensar
Estava atualizando meus dados de taxa real de câmbio (contra o dólar) e montei o seguinte gráfico mostrando a evolução do real (BRL) e do peso argentino contra o dólar. Como os dados oficiais de inflação argentina subestimam a inflação verdadeira,...

- Fora Do Lugar
É praticamente impossível ler certos textos sem se deparar com a expressão “câmbio fora do lugar” ou algo equivalente, usualmente acompanhada por uma historinha sobre a taxa de juros levar à apreciação “xxx” do câmbio (o leitor fica livre...

- Valorização Cambial? (ii)
Em uma postagem anterior, usando informações do IPEADATA, se mostrou que a taxa de câmbio efetiva real está atualmente próxima da sua "média histórica", sugerindo que a preocupação de muitos analistas com uma valorização "excessiva" do real...



Economia








.