Economia
Uma combinação inacreditável
Há quem receba mais atenção do que merece; há quem receba menos, como é o caso do IBGE. De fato, além de acelerar a divulgação da produção industrial, o IBGE tem trazido novas aberturas que auxiliam em muito o trabalho de análise econômica. Destas, uma em particular mostra o comportamento de setores industriais de acordo com sua intensidade exportadora, isto é, aqueles que tipicamente superam de forma significativa o coeficiente médio de participação das exportações no produto (20,8%) e os que costumam exportar uma fração menor de sua produção.
Ao contrário do que se imagina, os segmentos produtores de commodities são importantes tanto para o setor de alta intensidade exportadora como o de baixa intensidade, respondendo por cerca de 65-70% do peso no caso de seus principais produtos. Já os produtos mais sofisticados, como automóveis e aviões representam parcela importante da produção do setor exposto ao mercado externo, enquanto outros, como celulares e computadores, apresentam peso considerável no setor com menor exposição. A divisão entre commodities e produtos diferenciados não é, pois, a mesma que existe entre alta e baixa intensidade exportadora.
Dado este pano de fundo, convido os 17 leitores a analisar o comportamento dos dois setores a partir do início da série conforme mostrado no gráfico.
O primeiro fato que salta aos olhos é o crescimento francamente superior do setor intensivo em exportações. Entre 2002 e o terceiro trimestre de 2008 sua produção se expandiu à taxa média de 6,4% ao ano, contra 3,3% a.a. no caso dos segmentos de baixa intensidade exportadora, diferença que se mantém mesmo se escolhermos outros períodos amostrais.
Em outras palavras, apesar da conversinha sobre como a apreciação cambial – associada à forte valorização das commodities no período – estaria levando à desindustrialização do país, a realidade insiste em mostrar precisamente o oposto. Foi o setor de alta intensidade exportadora que liderou a vigorosa expansão industrial dos últimos anos e, dentro dele, o melhor desempenho veio de segmentos produtores de bens diferenciados, como automóveis, caminhões e aviões.
Obviamente, dado o cenário de forte contração do comércio internacional, que registrou queda de 40% entre o terceiro trimestre do ano passado e o começo de 2009, foi também esse setor quem mais sofreu com a crise, agravada ainda pelo colapso das importações argentinas (55% entre julho de 2008 e maio de 2009), destino de quase 20% das exportações industriais brasileiras. Tal resultado, diga-se, é congruente com o que já havíamos mostrado nesta coluna, isto é, que a queda das exportações explicava a maior parte da redução da produção industrial.
À luz destes dados, seria surpreendente a insistência certos economistas em ignorar o contexto externo e atribuir a forte queda da produção à política monetária. Só não surpreende porque há muito se sabe que tal “análise” deriva, em partes iguais, de incrível despreparo técnico e inigualável desonestidade intelectual.
Fonte: IBGE (dessazonalizado pelo autor)(Publicado 8/Jul/2009)
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