Teoria gravitacional da inflação
Economia

Teoria gravitacional da inflação



O IBGE registrou em janeiro a inflação mais elevada para o mês desde 2003, 0,86%. O número é alto, mas sua análise revela características ainda mais inquietantes.

Nada menos do que 75% dos itens pesquisados registraram aumento de preços em janeiro, também a maior proporção observada desde 2003, sugerindo que – ao contrário da história oficial – a aceleração da inflação não está ligada à evolução de uns poucos preços, mas se trata de fenômeno disseminado. Além disto, as medidas de inflação que buscam atenuar os movimentos exagerados de preços (os chamados “núcleos” de inflação) também alcançaram níveis recordes para o mês.

Registre-se, por fim, que o mau desempenho ocorreu a despeito do apelo patético feito aos prefeitos de grandes capitais para que adiassem a elevação das passagens de ônibus, assim como da antecipação da redução das tarifas de energia. Sem tais manobras, a encrenca seria ainda maior.

Há, é bom que se diga, um tanto de sazonalidade na história: a inflação mensal é, em geral, mais alta no começo e no final do ano e perde força no período maio-julho. Seria, portanto, despropositado tomar o resultado do mês como valor representativo do que nos espera ao longo de 2013. Ainda assim, a inflação medida em 12 meses (portanto livre de sazonalidade) superou os 6%, sacudindo, aparentemente, o torpor que tem caracterizado a atuação do BC nos últimos anos, a ponto deste admitir, embora com ressalvas, preocupação com a evolução da inflação “no curto prazo”.

Foi o que bastou para que o mercado passasse a questionar a estratégia (com perdão da palavra) antiinflacionária do BC. É sabido que este não revela a menor intenção de alterar a taxa de juros “por um período de tempo suficientemente prolongado”. À luz, porém da aceleração inflacionária e do aparente desconforto do BC com tal situação, já há quem aposte na possibilidade de que a promessa de estabilidade da Selic se mostre impossível de ser mantida, pelo menos por um período tão longo quanto o prometido pelo Copom.

Não por outro motivo as taxas de juros futuras se elevaram, incorporando uma probabilidade mais alta do BC ser obrigado a retomar uma postura mais ativa na condução da política monetária, condizente com o que se espera de uma instituição minimamente comprometida com a estabilidade de preços.

Em momentos como este é que se espera de um economista que diga a que veio, isto é, se haverá (ou não) aumento das taxas de juros este ano, contrariando o consenso da profissão, que ainda aponta para estabilidade da Selic até dezembro de 2013.

Por mais que me desagrade repetir o consenso, desta vez me parece mais provável que o BC mantenha a Selic inalterada. De qualquer forma, mesmo que, em cenário mais remoto, o BC venha a elevar as taxas de juros, creio que não o fará (como não o fez) em intensidade suficiente para domar o processo inflacionário, ainda mais considerando a proximidade com o ciclo eleitoral.

A verdade é que a definição da taxa Selic, que deveria ser um instrumento para controlar a inflação, tornou-se um objetivo de política econômica e, mais que isto, uma bandeira eleitoral. Em tais circunstâncias o BC enfrenta obstáculos consideráveis à sua autonomia, como a redução dos juros em meio à aceleração inflacionária permite inferir.

É mais provável que o governo lide com a inflação da forma como tem feito nos últimos tempos, isto é, por meio de reduções pontuais de tributos, adiando o momento de encontro com o teto da meta (6,5%), sem tratar, porém, das causas fundamentais do problema.

Não há, porém, como trazer a inflação de volta à meta sem uma verdadeira estratégia de política monetária, apenas alívios temporários, que não mudam a tendência central do processo. Inflação não volta à meta por gravidade, nem por torcida; apenas quando o BC faz o seu trabalho de forma consistente.

O buraco negro é mais embaixo.

(Publicado 13/Fev/2013)



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