Economia
Será que ele é?
Não é sempre que acerto um resultado do Copom, quanto mais dois em seguida. Até agora, pelo menos, a trajetória da Selic segue o cenário que tracei em março, o qual parece se consolidar como o novo consenso de mercado, conforme divulgado na pesquisa Focus desta semana. Antes que a maré de boa sorte acabe (como, sem dúvida, ocorrerá), aproveito para fazer um pouco de autopropaganda.
Mais importante, porém, que a autopromoção descarada é saber se o aumento de juros mais forte na última reunião do Copom é sinal de uma postura mais aguerrida do BC no que se refere ao controle da inflação, com vistas a trazê-la de volta à meta no próximo ano. Dobrando a aposta, não creio nesta história, nem em outras versões sobre a reconstrução do tripé de política econômica das ruínas do arranjo anterior.
A razão final é simples: o governo perdeu a janela de oportunidade que tinha para colocar a casa em ordem, principalmente (mas não só) no que diz respeito à inflação. As medidas necessárias para moderar as pressões inflacionárias e atenuar o crescente déficit externo implicariam custos do ponto de vista de atividade econômica, em particular no campo do emprego, que poriam em risco o projeto de manutenção do poder da atual administração.
No caso da política monetária o problema é claro. Há uma cadeia de efeitos entre as alterações da taxa de juros e a resposta da inflação, na qual o comportamento do mercado de trabalho é um dos elos centrais. Especificamente, parcela considerável da aceleração inflacionária recente resulta de salários crescendo a um ritmo superior à expansão do produto por trabalhador, traduzindo-se em elevação dos custos que, em particular no caso dos produtos não sujeitos à concorrência externa, são repassados aos preços finais.
Neste contexto, trazer a inflação de volta à meta requer moderação salarial, que, por sua vez, necessita de um mercado de trabalho mais frouxo. Em bom português, a elevação dos juros requerida para reduzir a inflação deve ser forte o bastante para fazer a taxa de desemprego subir de modo a aliviar o aumento dos salários.
Considerando ainda que os efeitos das taxas de juros se manifestam primeiro na elevação do desemprego, para apenas depois se materializarem em queda da inflação, é óbvio que o governo não tem quaisquer incentivos para permitir que o BC leve às últimas consequências as promessas (ou ameaças) de um retorno “tempestivo” da inflação à meta.
Pelo contrário, as altas recentes da Selic parecem consistentes com um quadro de elevação modesta, em que, ao final do processo, a taxa de juros não ultrapassaria 8,75% ao ano, ou seja, um aumento total de 1,5 ponto percentual.
Da mesma forma, muito embora o ministro da Fazenda prometa uma flutuação mais livre da moeda (supostamente por conta da normalização incipiente da política monetária nos EUA), o que se observa é distinto, a saber, o BC interferindo no mercado de câmbio para conter o encarecimento do dólar, receoso de seus efeitos sobre a inflação, ainda mais porque sabe das limitações a que está sujeito.
A atuação do BC no mercado de câmbio é, portanto, mais um sintoma de sua falta de autonomia na condução da política monetária.
Não é possível, pois, tomar a decisão do Copom como indicação de uma mudança de sua postura face à inflação. O BC tem que se equilibrar entre as pressões inflacionárias que permeiam a economia e o projeto de poder da administração, e o faz, em parte, tentando dar um ar mais duro à sua comunicação, o que explica a ata mais recente ter vindo um tom acima das edições anteriores.
O teste da disposição do BC, porém, virá somente no fim do ano, quando as limitações políticas às elevações de taxas de juros se tornarem mais agudas. Aí veremos quanto da conversa atual é verdade e quanto apenas retórica. Até prova em contrário, minhas fichas seguem na segunda alternativa.
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Central bankers don't dance! |
(Publicado 12/jun/2013)
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