Senhores de engenho e capitanias hereditárias X Globalização
Economia

Senhores de engenho e capitanias hereditárias X Globalização


Recentemente, com o preço do petróleo batendo recordes, o mercado tem buscado fontes de energia alternativas mais baratas para fugir da dependência do combustível fóssil, e o etanol tem galgado um espaço cada vez maior nesse nicho. O Brasil, um dos maiores produtores do mundo - vale lembrar que, segundo a RFA, (Renewable Fuels Association) o E.U.A., no último ano, conseguiu superar o Brasil na produção de etanol em quase 1 bilhao de galões de etanol, após seguidos anos de crescimento – vem sendo apontado como um dos principais atores nesse novo cenário. Atraídos pela terra riquíssima, sol abundante e um ótimo regime de chuvas, investidores internacionais vem buscando um espaço para aplicar seus recursos nesse lucrativo e promissor setor aqui no país, contudo encontram dificuldades. Como de costume.

Também tendo em vista mais uma peculiaridade da produção brasileira (que é fundamentalmente baseada nas plantações de cana de açúcar), que se mostrou mais barata e eficiente que qualquer outra, grandes investidores tem visitado o Brasil. Gigantes como Bunge (empresa de commodities), Soros e até mesmo os fundadores do Google visitaram plantações e engenhos no estado de São Paulo. Todos, em busca dessas grandes vantagens, propuseram acordos de compra parcial, total ou simplesmente associação com os proprietários das terras. Em resposta receberam negativas veementes ou contrapropostas com números exorbitantes. Sendo donos das terras a décadas e alguns a séculos, os proprietários alegaram que as mesmas tem valor sentimental e que não iriam vendê-las por tão pouco, depois de tanto tempo de trabalho duro feito pelas gerações passadas.

Mesmo sendo o Brasil detentor de tecnologia avançada na extração do etanol da cana (que vem sendo desenvolvida a décadas), tendo o know-how de cultivo de plantações e possuidor de características naturais únicas, um investimento em esquemas antigos desses Barões do açúcar pode representar grandes dores de cabeça. Administração contábil duvidosa, grandes dívidas dos engenhos e processos produtivos longe de serem modelos levaram antigos investidores (como empresas indianas de produção de etanol) e novos a declinarem de futuros investimentos em fazendas antigas. Em grande parte das plantações, a colheita da cana se da de modo manual, algumas das vezes sendo caracterizada como escrava, o que torna o negócio menos interessante, uma vez que esse tipo de mão de obra dificulta tomada de empréstimos produtivos e pode acarretar em rejeição do produto final no mercado.

Casos como esses tem levado alguns investidores a começarem do zero suas iniciativas. Sem o conhecimento na lida da terra e de todos os processos produtivos, novos produtores distanciam-se dos antigos Senhores do açúcar indo em direção ao centro-oeste e outras regiões do país, aumentando a fronteira agrícola. Contudo, o horizonte não é de penúria uma vez que essas propriedades voltam seus esforços para uma produção moderna e mais condizente com a realidade de mercado. Grandes investimentos em tecnologia (nos E.U.A. são gastos, por ano, quase U$ 400 milhões, diferentemente dos U$ 25 milhões gastos pelo Brasil) e capacitação de pessoal certamente irão trazer bons resultados em médio prazo.

A inércia dos notórios produtores de etanol em se adequar as demandas de mercado tem grande chance de provocar a ruína destes como empresário. O dinamismo dos novos modelos produtivos, baseados em grandes investimentos, empresas de capital aberto, que visam a transparência e procuram o lucro ao invés de poder político na região, os tornará, em pouco tempo, líderes do mercado. E esse antagonismo nesse promissor setor da economia pode acarretar não somente em uma reviravolta nos moldes de produtivos, mas pode significar na derrocada definitiva de uma sociedade que perdura desde os tempos de colônia e que possui hábitos antiquados (para ser educado), uma vez que perderá rapidamente seu poder econômico e conseqüentemente político. Nesse contexto, o Brasil acabará mais uma vez em melhor situação do que quando começou e como de costume sem ter feito nada para tanto.





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