A crise econômica bate mais forte no Sudeste- Parte 1
Economia

A crise econômica bate mais forte no Sudeste- Parte 1


Ricardo Lacerda

A crise financeira internacional iniciada em 2008 deslocou para baixo as trajetórias de crescimento de todas regiões brasileiras, mas algumas foram mais impactadas do que outras. Um aspecto significativo é que a dispersão entre as taxas de crescimento das regiões tem sido acentuadamente maior no período mais recente.

É suficiente destacar que entre setembro de 2008 e maio de 2011, que demarca o primeiro mergulho na crise e sequente retomada, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC) em doze meses do Nordeste cresceu apenas 8% acima taxa alcançada pelo Sudeste, mas entre maio de 2011 e abril de 2014, nessa comparação de doze meses acumulados, a taxa de crescimento da atividade econômica do Nordeste foi 2,6 vezes superior a da região Sudeste.

Nos doze meses encerrados em abril de 2014, em relação a igual período do ano anterior, a disparidade nas taxas de crescimento do nível de atividade entre as duas regiões foi muito amplificada. Nesse período que demarca, grosso modo, a queda de confiança na economia brasileira associada ao anúncio do fim progressivo da política de expansão quantitativa do banco central americano e à deterioração do cenário interno, a economia do Sudeste praticamente estacionou, o incremento foi de apenas 0,4%, enquanto o Nordeste cresceu 3%, ou 8,4 vezes superior.

Trajetórias regionais

O Gráfico 1 sintetiza as trajetórias do Índice de Atividade do Banco Central (IBC) das regiões brasileiras, em doze meses, entre setembro de 2008 e maio de 2011, e o Gráfico 2 apresenta a evolução depois desse período.

Na etapa descendente da primeira fase da crise, entre setembro de 2008 e outubro de 2009, as curvas das regiões em que o setor industrial apresentam maior participação na geração da riqueza, Sudeste, Sul e o Norte (por conta da zona franca de Manaus), desaceleraram em ritmo muito mais acentuado dos que as das regiões Centro-Oeste e Nordeste (ver Gráfico 1).

Na retomada do crescimento, a partir do último trimestre de 2009, nessa série de doze meses, as curvas das regiões Sudeste, Sul e Norte seguem quase sobrepostas e acima das regiões que menos decaíram, confirmando outros ciclos em que as regiões mais industrializadas apresentam flutuações mais acentuadas do que as menos industrializadas. 

Fonte: Banco Central do Brasil. Índice de Atividade do Banco Central, série sem efeitos sazonais

O segundo mergulho

Quando a evolução do nível de atividade mergulhou pela segunda vez, a partir de meados de 2011, o comportamento da economia do Sudeste descolou em relação aos das demais regiões. De forma monótona, o nível de atividade daquela região decaiu período a período.

Mesmo quando a média da economia brasileira ensaiou uma retomada modesta a partir do segundo trimestre de 2013 (na série de doze meses), o nível de atividade da região Sudeste pouco reagiu.

Naquele momento, a retomada concentrou-se nas regiões Nordeste e Norte e principalmente na região Sul (ver Gráfico 2). Na serie trimestral (não apresentada), enquanto o IBC da região Sul cresceu 9% no segundo trimestre de 2013, em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior e o do Nordeste, 3,9%, o IBC da região Sudeste se elevou bem menos, 1,9%.

Plano inclinado

Nos últimos três trimestres, a evolução da economia do Sudeste se agravou muito, puxando para baixo as taxas de crescimento da economia brasileira.

Enquanto o IBC da economia brasileira cresceu 2,2% nos doze meses encerrados em abril de 2014, o nível de atividade da região Sudeste teve incremento de apenas 0,4%. A região Norte se expandiu 2,9%, o Nordeste e o Sul, 3%, e o Centro-Oeste 1,8% (ver Gráfico 2). A forte desaceleração do índice da região Sul, que chama atenção no gráfico, nos últimos meses resulta principalmente da contrapartida ao repique do período imediatamente anterior, associado ao ciclo agrícola.

Nesse início de 2014, a situação da economia do Sudeste agravou-se ainda mais, enquanto as regiões Norte e Nordeste ensaiam uma retomada, possivelmente de pouco alcance temporal.

Fonte: Banco Central do Brasil. Índice de Atividade do Banco Central, série sem efeitos sazonais

Publicado no Jornal da Cidade em 22/06/2014 




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