Economia
Rússia e suas heranças "putinianas"
Aproveitando o gancho do que ocorreu na Rússia: a vitória de Medvedev nas eleições presidenciais, por 70,2% dos votos, sendo suporte para a continuidade das políticas “putinianas” por debaixo dos panos (ou por meio de participação de Vladimir em outra esfera de controle, o cargo de primeiro ministro), venho mostrar um pequeno balanço do que foi obtido pelo governo anterior no que tange à questão econômica (como as principais consequências para a sociedade).
Não há como esconder o fato de Putin ter retirado a Rússia de uma situação vergonhosa há 10 anos atrás (de devedora e caloteira) para a situação atual de credora, com reservas cambiais de 480 bilhões de dólares, e ainda, detentora de um fundo soberano de estabilização de 144 bilhões (regado pela comércio de gás e petróleo). Do ponto de vista macroecônomico, em se considerando o controle da inflação e relaxamento da política fiscal, tudo corre às mil maravilhas. Além disso, a renda per capita subiu de US$ 2000 em 1998 para US$ 9000 nos dias de hoje; contudo, a distribuição dessa renda é deveras desigual.
Citando um discurso de Putin, datado do início dos anos 90: “ agirei contra um governo que é contrário ao Estado e à sociedade, que serve aos interesses de grupos oligárquicos e que sugou a riqueza da nação, gerando a pobreza generalizada e a corrupção”, vemos, claramente, que a memória de algumas pessoas é curta (à semelhança do caso brasileiro), pois, segundo dados constantes no último índice do Banco Mundial sobre corrupção, verifica-se que a situação russa iguala-se a do Togo (o que é terrível). Contudo, como se pode ler na reportagem da The Economist de março 01-07, “Smoke and Mirrors”, cerca de 80% das empresas entrevistadas estão satisfeitas com o ambiente de negócios do país, visto que é fácil burlar as leis (através de suborno de oficiais) ou mesmo contar com a ação elitista no que diz respeito à tomada indiscreta de negócios pelos burocratas com dinheiro público. De um jeito ou de outro, sempre há salvação.
O crescimento de 8% do PIB em 2007 é uma marca respeitável, mas longe do potencial, se considerarmos as reais possibilidades de um país que detém um quarto das reservas mundiais de gás, suprindo o continente europeu, e ainda reservas petrolíferas invejáveis. Alguns problemas como os monopólios da era soviética - Gazprom e Rosneft – e também a participação ridícula de micro e pequenas empresas na constituição do PIB (15%) indicam que o custo de oportunidade de se abrir um negócio é baixo (tanto pelos custos burocráticos ainda altos, mesmo com as reformas feitas) e, além disso, a concorrência contra as campeãs (estatais) é reprimida no seu extremo, inclusive, via atos não tão interessantes do ponto de vista democrático: sabotagem, prisão de donos ou pressão multifacetada para venda de ativos.
O maior problema da economia russa é sua dependência dos recursos naturais - representa 80% das exportações - o que propicia a entrada de dólares em níveis extraordinários (fomentando a apreciação do rublo e a sangria importadora, além da inflação de dois dígitos). Em essência, importar não é ruim. A questão depreciativa dessa tendência está no descuido com a manutenção da força do mercado manufatureiro interno, com sua produtividade e qualidade baixas atuais (tanto que a Algeria insiste em devolver 15 jatos adquiridos). Como registro, a maioria do FDI que entra no país vem de empréstimos a empresas estatais e não como investimento em outras áreas afora infra-estrutura (leia-se energia).
Os maiores favorecidos pelos gastos do ano passado foram: empresas criadas pelo Estado (como uma de biotecnologia), os construtores da estrutura para os jogos olímpicos de inverno de 2014 e alguns burocratas que levaram de presente alguma empresa adquirida com dinheiro público. Enquanto isso, a saúde pública e o acesso à educação, garantidos pela constituição, estão em frangalhos. É, parece que a vida da maioria dos russos permanecerá estável (ou lastimável), se o valor das commodities permanecer no atual patamar. Caso contrário, com a queda do nível de renda, Putin e Medvedev, de rei e rainha no tabuleiro russo, terão uma longa caminhada como peões para retornar aos holofotes da política russa.
Fontes:
Revista The Economist – edição de 01-07 de março – reportagem: “Smoke and Mirrors”
Revista Business Week – reportagens diversas por meio de pesquisa interna do site, com palavra-chave: Russia, entre elas: “Russia´s economic might: spooky or soothing?”; “What Russia´s Election Means for Business”
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