Uma reportagem da revista americana “The Economist” no início do mês de março tratou de uma característica preocupante do empresariado brasileiro, cujo comportamento é notavelmente diferente de outros empresários de países emergentes, como a Rússia e a China. A falta de audácia foi comprovada através de entrevistas realizadas – a reportagem não menciona quantas foram – onde se procurou captar o grau de aversão ao risco do empreendedor (por meio de diferentes apostas hipotéticas onde se variou o risco e a recompensa, além de distintas possibilidades de escolhas intertemporais).
Para que uma empresa possa vencer num ambiente cada vez mais competitivo, onde os consumidores estão mais exigentes, deve-se, necessariamente, abraçar o risco. Faz-se necessário, dessa forma, construir um empreendimento sobre bases sólidas para resistir a momentos de turbulência na economia, possibilitando seu crescimento. A escassez de ousadia supracitada faz com que, apesar das boas idéias dos empresários brasileiros, os projetos não saiam do papel. E, quando investimentos deixam de ser feitos, o país tem menores taxas de crescimento e maior desemprego.
Quais são, então, os motivos dessa aversão ao risco? Em primeiro lugar, o custo de oportunidade do capital no Brasil é elevado, de modo que é possível obter um retorno razoável a partir de uma aplicação financeira com 100% de certeza. Em segundo lugar, o Brasil não é um país cujo ambiente é propício para a realização de negócios. Entre os dados que a “Economist” destaca – retirados do estudo do Doing Business – estão: 152 dias e 18 procedimentos diferentes para se abrir uma empresa e 2600 horas de trabalho por ano para se pagar impostos. Não é difícil perceber que mesmo a boa vontade do empresário brasileiro, por si só, pode não ser suficiente para abrir um negócio.
Só existe um único caminho para reverter esse quadro. O Governo deve, urgentemente, promover reformas institucionais que sejam capazes de reduzir o custo do capital dos empresários. Garantir direitos de propriedade, o Estado de Direito e a regra da Lei são fundamentais também nesse processo. Quem sabe assim seja possível reduzia a lacuna existente entre a taxa de crescimento econômico do Brasil com relação a outros países emergentes, como Rússia, China e Índia.
E o risco? Pra longe daqui!