O ciclo de crescimento econômico iniciado em 2004 produziu forte impacto sobre a ocupação formal e informal. Mais brasileiros de todas as regiões conseguiram se inserir no mercado de trabalho em condições melhores do que em períodos anteriores.
O aspecto mais significativo foi a queda do desemprego aberto. A taxa de desocupação das regiões metropolitanas caiu de 12,4%, na média de 2003, para 6,0%, em 2011, o melhor resultado da série histórica. Mesmo com a desaceleração do crescimento econômico desde meados de 2011, a taxa de desocupação manteve sua trajetória de declínio (ver Gráfico 1).
Fonte: IBGE- PME.
Especialmente benvindo foi o aumento da taxa de formalização do emprego que subiu 10,1 pontos de porcentagem, passando de 43,5% da população ocupada de 2003 para 53,6% em 2011. Quando são considerados apenas os trabalhadores do setor privado, a taxa de formalização alcançou 48,5%, em 2011, frente a 39,7%, em 2003. Mesmo em ano de queda do PIB, como em 2009, ou de crescimento mais modesto, como em 2011, a geração de emprego formal manteve-se firme, alcançando 4,4%, no primeiro, e 5,5%, no último, na série Caged sem efeito sazonal.
De natureza diferente tem sido a relação entre crescimento econômico e estabilidade no emprego. Tida pelo senso comum como um bem para o trabalhador, a estabilidade média no emprego tem sido menor e não maior, mesmo com o emprego em forte expansão, é o que indica o aumento da rotatividade.
Rotatividade
O IPEA e o MTE publicaram, no boletim Mercado de trabalho: conjuntura e análise de fevereiro, a nota técnica Rotatividade de trabalhadores e realocação de postos de trabalho no setor formal do Brasil: 1996-2010, de autoria de Corseuil & Ribeiro. A rotatividade é uma medida de fluxo dos trabalhadores entre os postos de trabalhos. O indicador de rotatividade do trabalhador resulta da relação entre a soma do total de trabalhadores admitidos e dos desligados ao longo do ano e o total de postos de trabalhos ocupados, com alguns ajustes.
Ou seja, a taxa de rotatividade bruta informa o numero médio de desligamentos e admissões por cada vaga ocupada. Se cada um dos postos de trabalhos existentes em um período (considerando o estoque médio) tivesse admitido e demitido um trabalhador a taxa de rotatividade seria de 200%.
É interessante perceber que a taxa de rotatividade bruta do período aumentou, indicando que, em média, os trabalhadores têm pulado mais frequentemente de um emprego a outro. A taxa de rotatividade bruta passou de 87,2% da média do período 1996-2000 para 106,2% na media de 2006-2010. A série anual completa está representada no Gráfico 2.
Fonte: MTE-RAIS. Elaboração IPEA.
O estudo mostra que o incremento da rotatividade do trabalhador no período decorreu não do fechamento do posto de trabalho que o obrigasse a buscar alternativa e sim da troca mais frequente de um emprego por outro. Ou seja, em média, o trabalhador está permanecendo menos tempo em um posto de trabalho, por outro motivo que não a destruição da vaga, mesmo porque, com o mercado de trabalho aquecido, a taxa de destruição de postos de trabalho por firmas em dificuldades caiu substancialmente.
Há forte tentação de não especialistas em apontar que a maior frequência na mudança de emprego teria ocorrido pela iniciativa do próprio trabalhador, em busca de melhor ocupação. O estudo evita tal tipo de inferência, atribuindo o aumento de rotatividade a mudanças na composição de emprego, na medida em que a maior parte dos novos postos de trabalho foram criados nos segmentos do setor de serviços e empresas de porte menor, tradicionalmente detentores de taxa de rotatividade mais elevadas. Como a taxa média de destruição de postos de trabalho caiu no período, cabe perguntar se, dentro dos setores em que atuam, os trabalhadores não estariam procurando melhores ocupações.
Publicado no Jornal da Cidade em 15/04/2012
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