O que o mundo espera do agronegócio? Marcos Jank responde.
Economia

O que o mundo espera do agronegócio? Marcos Jank responde.


Com excelente conhecimento e didática, Marcos Sawaya Jank na FOLHA DE S. PAULO demonstra "O que o mundo espera do agronegócio".

Ninguém mais duvida de que o Brasil é hoje uma das maiores potências agrícolas do planeta. Graças a agricultores competentes e investimentos em tecnologia tropical, tornamo-nos líderes globais em importantes commodities. Grãos, açúcar, café e algodão são exportados com base em cotações de Bolsas e chegam a mais de 200 países.

Mas a pergunta que fica é: estamos conseguindo entender e atender as expectativas de nossos consumidores finais? Nosso único papel é vender commodities ou há outras oportunidades que não estão sendo exploradas?

Vejo hoje quatro grandes vetores que puxam a demanda do agronegócio no mundo. Nos países pobres, a preocupação central é a "segurança alimentar" da população no sentido mais clássico ("food security") --oferta crescente de alimentos a preços acessíveis.

Quase 1 bilhão de pessoas ainda passa fome no mundo. Na Ásia e na África, mais da metade da população vive em condições precárias de subsistência em pequenas propriedades no campo, sem conhecimento, tecnologia e acesso a mercados.

Para esse imenso grupo, a palavra mágica é "produtividade", obtida pelo aumento do rendimento e escala da produção doméstica, ou pela maior abertura para importações competitivas, reduzindo as barreiras que hoje impedem o comércio. Esse é o segmento em que o Brasil se posiciona muito bem desde que existe, primeiro em produtos tropicais, depois nas grandes commodities da alimentação mundial.

Na sequência, vem outro vetor ainda pouco explorado pelo agronegócio brasileiro: a questão da "segurança do alimento" ("food safety"). Cresce o número de países cuja preocupação central não é mais a quantidade produzida no campo, mas sim a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos consumidores. Aqui o que interessa não é volume, mas sim sanidade comprovada, armazenagem adequada, distribuição rápida, certificação, rastreabilidade etc. Em suma, o consumidor quer ter certeza quanto à qualidade do alimento que vai comer e, para isso, a palavra mágica é "segurança da cadeia de suprimento".

A China deve ser o país em que essa preocupação é hoje mais intensa. O Brasil possui cadeias produtivas consolidadas e bem coordenadas que chegam com eficiência à mesa do consumidor doméstico. Porém, na exportação, com raras exceções, ainda não conseguimos ir além da venda de commodities básicas sem grande diferenciação.

Países de renda média de América Latina, Leste Europeu e alguns asiáticos se encontram no terceiro grupo. Aqui a palavra forte é "valor adicionado", traduzido em segmentação e variedade de produtos, criação de marcas globais, conveniência, sabores, embalagens e logística eficiente.

Oferecer ao consumidor produtos confiáveis, acessíveis, saborosos, de alta qualidade, na hora certa. Este é o estágio em que estamos no mercado interno. Mas no exterior ainda há muito por ser feito, principalmente entre o processamento e o consumidor final. Reside aí a maior oportunidade de internacionalização da cadeia de valor que o agronegócio brasileiro tem hoje.

No quarto grupo, estão consumidores de renda maior, que, na maioria dos casos, vivem em países desenvolvidos em que a dimensão preço x qualidade x variedade já foi conquistada. Para esses consumidores mais ricos, o que interessa são "novas demandas" do tipo de alimentos produzidos localmente, próximos à região de consumo, com mínimo impacto ambiental e menor uso de tecnologia --orgânicos, sem antibióticos, sem transgênicos, sem instalações fechadas. Exigências que costumam elevar o preço do produto.

Esses quatro vetores definem demandas com diferentes comportamentos e velocidades, às vezes em direções opostas. Por exemplo, enquanto o primeiro grupo busca o aumento da produtividade por meio da maior tecnificação da produção, o quarto grupo está disposto a pagar mais por alimentos produzidos com menor intensidade tecnológica.

Cabe às empresas entender esse quadro e buscar satisfazer seus diferentes grupos de clientes e consumidores. Cabe aos países entender as diferentes dimensões da demanda global por alimentos e gerar as políticas e as regulações adequadas.

Claramente cumprimos um papel relevante no suprimento global de commodities. Mas será que estamos nos organizando adequadamente para aproveitar as fantásticas oportunidades que o mundo nos oferece?





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