No FINANCIAL TIMES, aqui disponível pelo VALOR ECONÔMICO, uma análise da atual situação econômica.
A perspectiva de nova recessão global, agravada por uma crise sem precedentes na zona do euro, que arrasta Espanha e Itália, arrasou os mercados ontem. As enormes quedas das bolsas, puxadas pelas ações de indústrias e de commodities, lembraram os dias de pânico que marcaram o desenrolar da crise financeira de 2008. A Bolsa de Nova York teve seu maior recuo em dois anos e fechou em baixa de 4,3%. A Bovespa caiu 5,7%, a maior queda desde novembro de 2008, e acumula perda de 23,8% no ano.
As principais bolsas do mundo já estão 10% abaixo de seus picos recentes, uma indicação de mudança significativa de rumo. Vários sinais de perigo iminente que assombraram os mercados ao longo da semana confluíram ontem para compor um quadro assustador. O medo de uma recessão, nutrido pela perda de fôlego da indústria nas principais economias do mundo, moveu as commodities para baixo e, com mais força, o petróleo, que teve a maior queda em cinco meses em Nova York, onde o barril do WTI foi cotado a US$ 86,83. As ações de mineradoras e dos grandes traders de commodities levaram uma surra, embora não tão forte quanto a dos bancos europeus, que estão no olho do furacão.
Temores quanto ao futuro da atividade econômica e custos crescentes provocaram fortes quedas nas ações de companhias mineradoras, petrolíferas e negociantes de commodities. Até mesmo em comparação com a recente crise financeira, a liquidação de ações nas bolsas de valores foi considerável.
Aceleraram a liquidação de ações desta semana o crescente nervosismo diante da crise da dívida na Europa, o risco de um duplo mergulho recessivo nos EUA e a avaliação de que as autoridades econômico-financeiras - incluindo o governo japonês e o Banco Central Europeu (BCE) - não conseguiram sustentar a confiança.
Os papéis mais afetados foram as ações das grandes companhias mundiais que operam com recursos naturais - mineradoras, petrolíferas e companhias que negociam com commodities. Apesar de os preços de muitas das commodities permanecerem próximos de seus picos recentes, os preços das ações correspondentes despencaram, levando as cotações aos níveis mais baixos do ano.A divergência de preços entre as ações de companhias no setor de commodities e os preços das próprias matérias-primas evoca lembranças de meados de 2008, quando investidores em ações foram mais rápidos na previsão da crise financeira mundial.
Será que os investidores em bolsa acertaram novamente? Se assim for, uma forte desaceleração econômica, ou algo pior, pode estar à espreita. Outros setores, como o de bancos, sofreram agudas quedas em suas ações, devido a preocupações com a exposição à crise da dívida soberana na Europa e o risco de mais empréstimos impagáveis.
A lista de ações de companhias no setor de recursos naturais que despencaram inclui a Xstrata, mineradora negociada em Londres, que caiu 8,5%; a Royal Dutch Shell, maior grupo petrolífero na Europa, que caiu 5,2%; e a brasileira Vale, maior produtora de minério de ferro, que caiu 6,3%. A Freeport McMoRan, importante mineradora de cobre, viu suas ações caírem 5,9% e as da Archer Daniels Midland, um das maiores negociantes de commodities alimentícias, baixaram 4,5%.
Após duas semanas de pesadas quedas, o índice FTSE All World Mining e os índices FTSE All World Oil and Gas (petróleo e gás) registram alta de apenas 7,6% e 14,6%, respectivamente, em relação ao ano passado. No mesmo período, o índice de referência Reuters-Jefferies CRB, uma cesta de commodities que inclui petróleo, cobre e trigo registra alta de 22,1%.
A Glencore, maior negociante de commodities do mundo, cujas ações passaram a ser negociadas em bolsa numa oferta US$ 60 bilhões em maio, é uma das mais afetadas. Suas ações caíram 17,9%, até agora, nesta semana. Fecharam ontem a 391 pence, ou mais de 26% abaixo do lançamento.
Os investidores em ações parecem muito mais preocupados com a possibilidade de um renovado mergulho em recessão do que os investidores em commodities, segundo executivos do setor.
Investidores dizem que os preços elevados de petróleo e alimentos estão forçando os BCs dos países emergentes a apertar sua política monetária, freando o crescimento econômico na China, na Índia e em outros grandes consumidores de commodities.