Ricardo Lacerda
É razoável inferir que a evolução da economia brasileira em 2015 fugiu quase completamente ao script que se desenhava no início do ano: PIB, vendas no varejo, inflação, déficit público e mesmo a balança comercial apresentaram comportamentos muito distintos dos esperados.
Ainda que a evolução do cenário externo tenha inserido componentes negativos no desenrolar dos acontecimentos, o ambiente político interno tem sido o fator mais decisivo para o agravamento do quadro econômico. Enquanto o impasse com o congresso nacional paralisa o governo, adia-se o encaminhamento de questões prementes e aprofunda-se a insegurança sobre o futuro do país. Indicadores econômicos ruins e desarranjos políticos se alimentaram mutuamente ao longo do ano.
O PIB
O resultado do PIB do terceiro trimestre de 2015 não apenas foi muito ruim como representou uma aceleração abrupta no ritmo de queda do nível de atividade da economia brasileira, na série que compara com igual trimestre do ano anterior.
No início de julho, portanto, quando o terceiro trimestre começava, a expectativa de mercado era de que o PIB apresentaria naquele trimestre a queda mais acentuada do período de ajuste macroeconômico e no último trimestre do ano o recuo já seria menos intenso. Naquele momento, acreditava-se que o nível de atividade se estabilizaria no primeiro trimestre de 2016 e a economia voltaria a crescer a partir do segundo trimestre do próximo ano.
Previa-se no início de julho que o PIB recuaria 1,5% no segundo trimestre de 2015 e 1,6% no terceiro trimestre, em relação aos mesmos períodos do ano anterior.
A realidade apresentou um desvio considerável em relação àquelas projeções. O PIB do segundo trimestre caiu 3%, na comparação com igual trimestre de 2014, e o do terceiro trimestre recuou 4,5% (ver Gráfico 1).
Além do resultado ter sido muito ruim, prevê-se que no último trimestre do ano a queda será ainda mais acentuada.
Nas projeções de mercado mais recentes (27/11/2015), anteriores mesmo à divulgação do PIB do terceiro trimestre, o ritmo de queda do nível de atividade continuará se acelerando no final de 2015. As quedas do PIB deverão ser menos intensas em 2016, mesmo porque as bases de comparação serão inferiores, e a retomada do nível de atividade não se iniciará antes do último trimestre de 2016.
O Consumo das Famílias
A aceleração do ritmo de queda do consumo das famílias foi o dado mais surpreendente no comportamento recente do PIB.
O consumo das famílias já vinha desacelerando o seu crescimento desde o segundo trimestre de 2014, mas o recuo que apresentou em 2015 foi a principal causa queda abrupta do nível da atividade econômica (Ver Gráfico 1).
Depois de cair 1,5% no primeiro trimestre do ano, em relação a igual período de 2014, o consumo das famílias acentuou as perdas, despencando 3%, no segundo trimestre, e caiu 4,5% no terceiro trimestre. Para um componente da despesa que representa mais de 60% do total uma queda tão acentuada é desastrosa para o conjunto da economia e contamina o desempenho dos demais itens do dispêndio, que dependem do nível da atividade doméstica (ver Gráfico 2).
A Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos em maquina, equipamentos, construção e veículos automotivos não residenciais) que vinha se retraindo desde o segundo trimestre de 2014 simplesmente entrou em trajetória de queda livre nos três trimestres de 2015. O recuo no terceiro trimestre foi de notáveis 15%, refletindo a crise na atividade industrial e o clima de crescente insegurança que prevalece no cenário interno.
Em um ambiente como este, os sacrifícios impostos pelo ajuste fiscal não têm como contrapartida nem a melhoria do grau de confiança, nem se desdobram em ganhos fiscais; são apenas sacrifícios e são um último recurso que impede o descontrole absoluto.
Fonte; IBGE. CNT
Fonte; IBGE. CNT
Publicado no Jornal da Cidade, 07/12/2015
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