O comércio exterior sergipano em 2010 (1)
Economia

O comércio exterior sergipano em 2010 (1)


Ricardo Lacerda

A combinação de crise no mercado mundial, valorização cambial e forte expansão no mercado interno fez mudar o papel do comércio exterior na dinâmica de crescimento da economia brasileiro e dos espaços subnacionais. Um número crescente de setores buscou redirecionar maior parcela de sua produção para o mercado interno.

Depois de ter despencado de US$ 197,4 bilhões em 2008 para US$ 153,0 bilhões em 2009, retração de 22,7%, as exportações brasileiras cresceram 32,0%, em 2010, atingindo um novo recorde, US$ 201,9 bilhões. A recuperação das exportações em 2010 confirma a retomada paulatina do comércio mundial, após a etapa mais aguda da crise financeira internacional, agora com maior presença dos mercados emergentes nos fluxos comerciais.

Ainda assim, as exportações nacionais de 2010 se situaram apenas em 2,01% acima do valor de 2008. Além disso, depois do pico de 2006, o saldo do comércio exterior brasileiro vem caindo aceleradamente, significando a diminuição da importância do comércio externo no crescimento do PIB nacional, enquanto a expansão do mercado de consumo interno vem ampliando o seu peso.

As exportações sergipanas também foram fortemente atingidas pela crise internacional, seguindo o padrão nacional, ainda que o impacto tenha sido relativamente maior em Sergipe, tanto em razão das dificuldades enfrentadas no mercado internacional do seu principal produto, o suco de laranja congelado, quanto pelo redirecionamento de outros bens, como o cimento e os têxteis, para o mercado interno. Depois de se retraírem em 45,6%, em 2009, as exportações sergipanas ensaiaram um início de recuperação em 2010, com expansão de 26,1%.

Produtos

As exportações sergipanas estão concentradas em alguns poucos grupos de produtos, com destaque para o suco de laranja congelado, que respondeu por 44,7% do total das vendas externas de 2010. Outros grupos de produtos importantes são o de calçados e couros e o de açúcar. Sucos, calçados e couro, açúcar e produtos assemelhados respondiam por 93,3% da pauta exportadora de Sergipe naquele ano. Produtos têxteis e material elétrico são ainda itens merecedores de menção no perfil exportador.

Entre os principais produtos da pauta de exportação sergipana, o suco de laranja é que tem encontrado maior dificuldade de deixar a crise para trás, seja por que não há a alternativa de redirecionar as vendas para o mercado interno, seja porque depende essencialmente do consumo dos países ricos, ainda enredados em processos recessivos.

As exportações de calçados e couros apresentaram uma notável recuperação em 2010, impulsionadas pelo aumento da produção das unidades industriais que foram instaladas no interior do Estado. As exportações sergipanas deste setor, depois de subirem de US$ 7,6 milhões, em 2006, para US$ 9,5 milhões, em 2007, alcançaram US$ 14,9 milhões em 2008. Com a crise financeira internacional, em 2009 elas recuaram para US$ 7,6 milhões, mas, em 2010, saltaram para US$ 18,2 milhões, o melhor resultado da série histórica. (Ver Tabela). As exportações sergipanas de açúcar, que haviam sofrido descontinuidade em 2006 e 2007, ganharam um novo fôlego nos últimos três anos, saltando de US$ 6,5 milhões, em 2008, e para US$ 9,8 milhões, em 2010.

Fonte: MDIC/SECEX/ ALICE

Suco de Laranja

O valor das exportações do suco congelado de laranja também iniciou uma recuperação em 2010, mas ainda muito parcial frente à perda dos anos anteriores. Depois de alcançarem US$ 71 milhões, em 2007, recuaram nos dois anos seguintes, atingindo US$ 20,1 milhões em 2009. O valor exportado em 2010 ficou 70% acima do registrado em 2009, ainda que muito abaixo dos resultados obtidos em 2007 e 2008. (Ver Tabela). Mesmo considerando o caráter parcial da melhoria, há motivos para otimismo em relação à recuperação das exportações sergipanas de suco de laranja no futuro próximo.

No gráfico a seguir, a linha demarca o valor médio anual recebido por tonelada de suco congelado exportada por Sergipe e as colunas representam o valor exportado. Em 2007, no melhor ano de exportações sergipanas de suco congelado, o valor médio da tonelada exportada do produto alcançou US$ 1,9 mil. Já em 2008, o preço médio da tonelada exportada de suco caiu para US$ 1,4 mil, despencando novamente, em 2009, para US$ 886/ tonelada.


Fonte: MDIC/SECEX/ ALICE

Em 2010, o valor médio do suco exportado teve uma forte reação, alcançando US$ 1,6 mil/tonelada. Observando-se a trajetória dos anos recentes, nos melhores anos o preço da tonelada exportada se situou acima de US$ 1 mil. Cabe indagar, então, se com a recuperação do preço médio, 2010 terá marcado o inicio de uma nova recuperação das exportações sergipanas de suco de laranja? E com isso, as exportações sergipanas deixarão para trás, em breve tempo, as vicissitudes que as acompanham desde o início da crise financeira internacional?

*Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.

Publicado no Jornal da Cidade em 16/01/2011.


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