Muhammad Yunus e o microcrédito
Economia

Muhammad Yunus e o microcrédito


Nos últimos anos, o sistema econômico foi regado de crédito e irracionalidade por grandes conglomerados financeiros, sendo que praticamente todos os cidadãos possuíam acesso a recursos monetários em quantidades generosas, mesmo com taxas de juros relativamente altas, o que é não é nem analisado pela população em geral, em particular a brasileira, a qual se foca no tamanho da parcela, popularmente falando: “se cabe no orçamento”. Não importava onde o dinheiro seria utilizado, nem se a pessoa contemplada com tal soma teria sustentabilidade financeira de longo prazo, afinal, o relevante era gastar, viver na bonança, honrando o estandarte do consumismo. Com o advento da presente crise, o crédito sofreu forte contração. Daí surge a conjuntura favorável para revermos nosso comportamento sobre o dinheiro, sejamos nós pessoas físicas ou jurídicas.

Como exemplo de que com pouco de faz muito, li o livro “O Banqueiro dos Pobres”, escrito por Muhammad Yunus (1). O assunto principal do livro reside na força que o ainda insipiente microcrédito (2) tem no que diz respeito à mudança de vida de pessoas, em especial, para aquelas deserdadas pela sociedade (fora do acesso ao crédito bancário convencional), por meio de uma estratégia eficaz, sem grande risco para o financiador e com grandes benefícios para os pobres.

Depois de uma passagem importante pelo meio acadêmico, Muhammad percebeu que as respostas vindas dos livros teóricos não eram aplicadas no combate à pobreza de seu país (Bangladesh). Certa vez, afirmou: “comecei a achar que minhas aulas eram uma sala de cinema onde podíamos relaxar, tranqüilizados pela vitória certa do herói”. Mirando o mundo real, verificou que em se utilizando algum meio de empréstimo, as pessoas menos favorecidas poderiam aplicar seus conhecimentos, de modo a gerar sua própria renda, aumentando sua “qualidade de vida”. Além dessa constatação, critica o Banco Mundial pela sua atitude dita superioridade organizacional: “a contratação de grandes cérebros não se traduz necessariamente em políticas e programas que ajudam as pessoas, particularmente os pobres. De que adianta serem eles os melhores do mundo, se pairam acima das nuvens e não conhecem a vida terrena? O Banco Mundial devia contratar pessoas que entendessem o pobre e a sua vida. Esse conhecimento tornaria esta instituição mais útil do que é atualmente”. Essa é uma verdade que atormenta a instituição, que passa por uma crise de existência, já tratada em diversos periódicos econômicos como The Economist, Global Finance e Business Week. Várias outras características como a primazia de empréstimos às mulheres, por meio da formação de grupos de entre – ajuda; estrutura bancária com estipulação de princípios flexíveis ao local onde a agência está instalada, e ausência das burocracias presentes no sistema geral são pilares de uma nova face em relação ao que pode ser feito para mitigar a pobreza em nível municipal, regional e mundial.

Indubitavelmente, indico esse livro para as pessoas que buscam conhecer uma atividade posta em prática não somente em Bangladesh, mas também em cerca de 140 países ao redor do mundo (3). Ele demonstra que o pobre não é inferior em capacidade criativa a qualquer outro cidadão de posição superior no estrato da pirâmide social, e que ele necessita sim de um suporte financeiro, mesmo que ínfimo para os parâmetros monetários comuns, por fim vencendo os grilhões e preconceitos inerentes aos nossos juízos de valor, calcados mais em lendas do que em dados concretos.

(1) O Comitê norueguês contemplou Muhammad Yunus e seu Banco Grameen, com o Nobel da Paz em 2006, pelo seu esforço no desenvolvimento econômico vindo das camadas mais baixas da sociedade.

(2) A história do microcrédito remete ao século XVIII. Para maiores informações, acesse o link http://www.gdrc.org/icm/ em inglês. Caso necessárias traduções (alguns artigos, por questão acadêmica), requisite por e-mail ao colunista.



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