Ricardo Lacerda
Dissemina-se o sentimento de urgência em relação à necessidade de expansão dos investimentos em infraestrutura para ampliar o potencial de crescimento da economia brasileira. Depois de duas décadas de baixo dinamismo, o ciclo de crescimento iniciado em 2004 intensificou o uso das envelhecidas redes de transporte e de energia, pressionou a base instalada de telecomunicações e revelou o completo esgotamento da infraestrutura dos centros urbanos. Para o Nordeste, que sempre contou com recursos logísticos muito inferiores aos das regiões Sudeste e Sul, é ainda maior a premência em superar os gargalos e preparar a economia para um novo ciclo expansivo.
Nesse sentido, vem em boa hora o estudo encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no âmbito do Projeto Nordeste Competitivo, que buscou identificar os investimentos prioritários em transporte e logística para os próximos oito anos.
Partindo da constatação de que a infraestrutura de transporte do Nordeste se encontra no limite de sua capacidade, o documento Planejamento Estratégico da Infraestrutura de Transporte de Cargas da Região Nordeste prevê a necessidade de realização de investimentos da ordem de R$ 25,8 bilhões voltados para a integração dos principais sistemas produtivos da região. O sumário executivo do relatório pode ser acessado em
http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2012/10/30/2259/20121030123622160279o.pdf.
Integração regional
O planejamento do setor de transporte e logística da região tem como objetivo central integrar fisicamente os nove estados da região, com vistas a potencializar o seu desenvolvimento econômico. A iniciativa almeja ainda delimitar eixos integrados de desenvolvimento prioritários para a região. É um estudo estruturado e ambicioso, que vale a pena ser lido por quem se interessa pelas questões de desenvolvimento do Nordeste.
A lógica do documento parece consistente. Parte da caracterização das principais cadeias produtivas regionais, com base nos dados de exportação e de valor da produção, para identificar as necessidades de investimentos em transporte e logística.
A síntese do problema é apresentada com precisão pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), José de Freitas Mascarenhas: "A infraestrutura não está colaborando como poderia, e deveria, para aumentar a competitividade do nosso país. A infraestrutura é um meio de elevação da eficiência da indústria". E não apenas da indústria, a produção agrícola também seria muito favorecida pela superação dos principais gargalos logísticos. O gráfico apresentado a seguir resume a estimativa de necessidades de investimentos para a integração dos principais eixos de desenvolvimento do Nordeste para o período 2012-2020.
Fonte: CNI. Planejamento Estratégico da Infraestrutura de Transporte de Cargas da Região Nordeste, 2012.
Ainda que os investimentos em portos e ferrovias sejam os mais expressivos em termos de valor, os recursos projetados para rodovias e hidrovias são também elevados. No caso das hidrovias, a prioridade é viabilizar a implantação do corredor do rio São Francisco, que já é navegável entre Ibotirama, na Bahia, até a foz na divisa Alagoas-Sergipe, mas que tem potencial para se estender à montante até Pirapora, em Minas Gerais.
Integração territorial
Além do planejamento macrorregional, referente ao conjunto da região do Nordeste, os investimentos precisam dar conta da integração interna nos estados. Os investimentos em infraestrutura são fundamentais para enfrentar os gargalos na estrutura produtiva e na mobilidade urbana que foram explicitados pelo crescimento dos últimos anos, evitando o estrangulamento físico do desenvolvimento rural, industrial e do turismo e a deterioração da qualidade de vida nos centros urbanos metropolitanos e nas principais cidades do interior.
Desde 2007, o planejamento estratégico do estado de Sergipe para a área de infraestrutura de transporte buscou, de um lado, promover a integração dos territórios sergipanos para articular as atividades agrícolas e industriais dos municípios e, de outro lado, impulsionar os eixos de expansão produtiva e turística por meio de integração regional com estados vizinhos.
O amplo conjunto de investimentos realizado foi norteado por essas diretrizes, que se desdobraram em intervenções em que os maiores destaques foram a implantação da Rota do Sertão e a restauração da Rodovia Lourival Baptista, principais eixos de integração territorial, obras que foram complementadas por toda uma rede viária articulando a produção de municípios e povoados aos principais mercados. A duplicação da BR-101 é outra peça fundamental na formação dessa rede.
Os recursos do Proinveste vão financiar novos investimentos em infraestrutura produtiva e mobilidade urbana, além de viabilizar a contrapartida para os investimentos já em andamento. São fundamentais para dotar as atividades produtivas de Sergipe de melhores condições de competitividade, além de preverem um amplo leque de investimentos em saúde, educação e mobilidade urbana.
Publicado no Jornal da Cidade em 04/11/2012
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