Nordeste 2001-2010: Crescimento, Mudanças e Desafios
Economia

Nordeste 2001-2010: Crescimento, Mudanças e Desafios


Ricardo Lacerda

Nos dias 23 e 24 de novembro, a Fundação Joaquim Nabuco realizou, em Recife, o XIII Simpósio ObservaNordeste, com a temática que dá título ao presente artigo, para debater sobre as transformações econômico-sociais e políticas do Nordeste na primeira década do novo século.

O objetivo do simpósio foi o de reunir estudiosos e pesquisadores dos estados da região para fazer um balanço das mudanças econômicas, sociais e políticas no Nordeste, no âmbito do ciclo de transformações recentes e avaliar os limites e os desafios para a segunda década do século XXI.

Novo patamar

A questão mobilizadora dos debates era como a região Nordeste, que vem se constituindo em uma das fronteiras do crescimento brasileiro, poderia potencializar a fase positiva recente para alcançar novos patamares de desenvolvimento. O Nordeste obteve taxas de crescimento econômico acima da média brasileira na primeira década do século, impulsionadas pelo impacto maior na região da elevação do poder de compra da chamada classe C, das políticas de transferências de renda e dos investimentos estruturantes realizados.

Pairava entre os pesquisadores certa inquietação sobre a estratégia que a presidente Dilma, que não tem a mesma identificação que demonstrou ex-presidente Lula com a região, adotaria para o desenvolvimento do Nordeste, e se seria dada continuidade a prioridade que ela contou nos últimos oito anos.

No governo anterior, duas linhas de atuação concorreram para impulsionar o crescimento econômico do Nordeste: Em primeiro lugar, o conjunto das políticas públicas com forte viés social que, mesmo sem ter orientação para o desenvolvimento regional, findaram por incidir muito mais intensamente nas áreas mais pobres. A transferência de recursos originários dessa política, ao lado de outras medidas que elevaram o poder de compra das parcelas da população de menor renda, como os aumentos reais do salário mínimo e a expansão do crédito, ampliaram o mercado de consumo da região com importantes reflexos em termos de geração de emprego.

O Gráfico a seguir mostra como o emprego formal no Nordeste vem avançando mais rapidamente do que a média do país. O Nordeste que respondia por 17,2% dos empregos formais do país, participou com 19,3% dos empregos criados, entre 2004 e 2007, e com 23% dos empregos gerados, entre 2008 e 2010.

Fonte: MTE-RAIS

A segunda linha de atuação foi a prioridade dada à região nos investimentos de cunho estruturante do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e na implantação da rede de escolas tecnológicas e de universidades federais que foi implantada no interior do país.

Desigualdades

Mesmo considerando as conquistas recentes, as disparidades entre as regiões brasileiras são muito elevadas em todas as dimensões do desenvolvimento econômico social: nos indicadores de saúde, educação, infraestrutura, base produtiva, pobreza e renda. A incidência da pobreza na região Nordeste é o indicador que melhor traduz a situação presente.

O Nordeste, que com seus 53 milhões de residentes responde por 28% da população brasileira, detém 59% das pessoas identificadas como imersas na pobreza extrema. O compromisso da Presidente Dilma no regaste desses brasileiros é inequívoco e ficou estampado no lema adotado pelo seu Governo, País rico é país sem miséria, que assinala o aumento do compromisso com as faixas mais pobres da população e que é traduzido em uma política transversal, abrangendo as diversas áreas de governo.

Os pesquisadores reunidos alertaram para o potencial de concentração regional de riqueza dos investimentos do pré-sal, com seus desdobramentos em todo um conjunto de novos segmentos a eles acoplados, em construção naval, petroquímica, eletroeletrônica etc que, na ausência de uma política clara de implantação de pólos regionais, tenderão a se concentrar na região Sudeste.

A formação de um novo mercado de consumo de massa, com a emergência da chamada classe C, que fez com que o Nordeste tenha se constituído desde 2008 no segundo mercado de consumo do país, à frente da região Sul, tem se revelado um importante ativo regional, atraindo empresas para disputar esse poder de compra que vem crescendo a taxas aceleradas.

A posição alcançada pelo crescimento do mercado de consumo e pelos investimentos estruturantes realizados coloca a região em situação de ousar em direção a outras transformações estruturais, para o que são prioritários investimentos em educação, em infraestrutura produtiva de integração intra-regional, em Ciência &Tecnologia, e não menos fundamental, a implementação de uma política industrial que contemple a região com alguns e significativos investimentos nos novos setores que serão instalados na esteira do crescimento econômico nacional.

Publicado no Jornal da Cidade, em 27/11/2011 Para baixar o arquivo em PDF clique aqui.



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