Índia e sua espécie de crescimento
Economia

Índia e sua espécie de crescimento


O ano de 2008 iniciou-se de forma promissora quando a empresa indiana Tata anunciou a compra das marcas Jaguar e Land Rover, que pertenciam à empresa automobilística Ford, num negócio que alcançou as cifras de US$ 2,3 bilhões. Alguns meses após este fato, a própria Tata Motors lançou o seu modelo de baixo custo, o “Nano”. Empresas do setor de serviços como a Infosys, TCS e Wipro, o qual representa mais de 50% do crescimento do PIB, mantiveram a tendência de fortalecimento de sua marca nos mercados mundiais.

De princípio, isso seria clara indicação de que a situação geral da economia indiana está com viés positivo. Infelizmente, as aparências enganam. Como o próprio ministro das finanças do país, Palaniappan Chidambaram, pronunciou: “O tigre está deveras ameaçado”. E ele não fala isoladamente da espécie animal e sua decadente população, mas evidentemente da situação em que se encontra um dos grandes representantes dos BRICS: Índia. Após a instauração da “licença Raj”, medida a qual englobou cortes de tarifas, impostos e desregulamentação de negócios, por Manmohan Singh em 1990 – ele é o atual presidente - houve uma das maiores reviravoltas no que tange ao desenvolvimento do setor privado indiano e a manutenção de níveis brutos de expansão do PIB em 6% no período 1992/2002.

Entretanto, se depender do setor público e suas pequenas distorções: suporte comunista ao sistema de castas, problemas de corte de energia, leis rígidas de trabalho, problemas históricos com o vizinho Paquistão (devido à Caxemira) e subinvestimento em educação não é possível identificar se a manutenção dos níveis atuais de desenvolvimento econômico será realidade no longo prazo.

Em adição aos problemas gerais do país, deve-se ser sublinhada a situação da infra-estrutura, destacada aqui em um parágrafo separado, indicando a sua magnitude. No que tange à questão sanitária, segundo dados governamentais, não passa de 13% o tratamento de esgoto (veja-se o próprio rio Ganges, que apesar de seu valor religioso no que tange aos banhos sagrados, é agraciado com cadáveres de pessoas). Como conseqüência quase que indubitável são as degradantes doenças que afetam, em grande intensidade, crianças. No que tange à malha rodoviária, alcançando 3,3 milhões km, só foram feitos reparos em 2% do total, nos últimos 15 anos. Se você decidir usar automóvel dentro da cidade de Delhi, a maior velocidade a ser registrada no seu velocímetro será de 27 km/h (São Paulo é semelhante, a propósito, nos horários de pico).

O débito das contas do governo atinge 4,3% do PIB (sem contar os gastos com subsídios à gasolina e fertilizantes, da ordem de 3,5% do PIB). Para efetivamente suprir esse débito, o governo pressiona as instituições bancárias, fundos de pensão e seguradoras locais a adquirirem seus títulos. Como o investimento privado ocorre somente via alavancagem financeira e ou por parte dos lucros, as empresas mais organizadas (IT ou conglomerado Tata) recorrem ao mercado de capitais, o que contribui para o fortalecimento do rupee e incremento das reservas estéreis do Banco Central Indiano, canal comprometido, diga-se de passagem, pela crise financeira internacional. Como a via legal de transferência não funciona efetivamente, o governo cogita a possibilidade de apagar a dívida de cerca de 30 milhões de dólares incidentes em pequenos produtores, a partir da premissa do não-envolvimento de tantos mecanismos de Estado (a velha burocracia tão conhecida no Brasil). Segundo dados do Congresso indiano, mesmo com a teórica obrigação constitucional de acesso à saúde, educação e água potável, a Índia registra um dos piores níveis de inversão estatal nessas prioridades, num panorama global. As melhorias - leia-se reformas - de cunho lendário (pregadas por Manmohan Singh, eleito primeiro-ministro em 2004) a saber: a transparência das contas governamentais, a melhoria no sistema de coleta de impostos (de estrutura arcaica em um país que é líder no desenvolvimento de serviços de informática) e criação de projetos de desenvolvimento regional são ainda matéria da esperança e não do fato. Talvez isto mude com as próximas eleições, previstas para este ano.

À intenção de complemento, tomando-se para isso o site http://www.cmie.com/, ainda se destaca o nível inflacionário atual – 12,1% - o qual contribui para o achatamento da capacidade de demanda interna. Mesmo com vaga promessa de aumento salarial e do corte de alguns impostos sobre consumo no curto prazo, a melhoria da qualidade de vida aos mais necessitados está ancorada em um tigre sim, de bengala.



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