Índia e China, dupla dinâmica!
Economia

Índia e China, dupla dinâmica!


Enquanto o Brasil vangloria-se da obtenção do grau de investimento (1) e da criação do FSB, descuida-se das suas relações exteriores. Ao invés de se coadunar com os seus contrapartes falidos do MERCOSUL (Argentina, Paraguai, Uruguai), deveria focalizar no âmbito multilateral, por exemplo, no que tange ao mercado africano. Ou será que o foco do Brasil continua sendo a posição de “celeiro do mundo”? Neste texto, analisamos a aproximação comercial que está em transito entre Índia e China, fomentada pela competição inerente das duas nações mais populosas do planeta e de características complementares que apresentam. Vejamos.

Neste momento de crise internacional no que diz respeito ao mercado alimentar, a África está sendo muito visada como destino de investimentos, seja por projetos da ONU e da FAO, ou de instituições privadas nacionais (especialmente Odebrecht e Grupo Votorantim) e internacionais (Grupo TATA, ONGC, Huawei). No que tange à Índia, a sua participação na formação do continente africano advém dos tempos de domínio britânico, onde mais de um milhão de trabalhadores indianos foram deslocados para a construção de ferrovias no leste da África (há descendência numerosa). Hoje em dia, a Índia trabalha sua postura de marketing através da venda de aparelhos celulares e serviços de internet a preços reduzidos, além de optar por investimentos centralizados em alta tecnologia (África do Sul) e exploração de recursos naturais diversos, como o petróleo angolano e nigeriano. Por parte da China, o que se vê é um diferente approach, visto que as estatais chinesas preferem optar por investimentos grandiosos em infra-estrutura e construção civil, em troca de benesses na extração de minérios e petróleo. Além disso, há concessão de empréstimos polpudos para nações com problemas de tirania. A única questão que aborrece os africanos é que eles preferem trazer chineses ao invés de alocar os trabalhadores locais nas obras. Este é um exemplo da influência dual dos colegas de denominação BRIC.

Segundo opinião de Tarun Khanna, um professor indiano da Harvard Business School, “their social and economic systems are vastly different [...] but they have strengths that could be complementary” (2). Segundo previsões, o comércio bilateral entre Índia e China alcançará US$ 40 bilhões em 2010, em especial, pelas grandes inversões de IED e aumento da classe média (a qual fomenta o consumo e a inflação). É pequeno em níveis brutos. Normalmente, o que ocorre é o seguinte: a Índia exporta matérias-primas (ferro, algodão, plásticos, pedras preciosas), acontecendo o processo de agregação de valor na China, sendo reexportado à Índia um produto pronto, como, a título de ilustração, os compostos orgânicos que são utilizados pelas empresas farmacêuticas indianas. Se você reparar na questão do número de pessoas com aparelho celular na Índia, verá que o custo dele é baixo, tanto quanto o é da ligação. A partir daí, vemos a união da capacidade de outsourcing indiana (serviços de administração e controle produtivo das gigantes como WIPRO, TCS, INFOSYS) e a capacidade manufatureira chinesa (sublinhando a participação da Huawei, produtora de aparelhos de telecomunicações, considerada uma das multinacionais dos países emergentes). Como nos diz Pradipta Bagchi, gerente de comunicações corporativas da Tata Consultancy Services (TCS) em Mumbai, “ some guy is making a part in China, some Guy is making something in Korea and they are putting it together in Japan and shipping it to the US. The need for technology to keep people talking to each other is very important” (3). A grande vantagem dessa relação Índia-China está na escala potencial dos mercados (40% da população mundial – 2,4 bilhões) e do poderia privado intrínseco.

Se a extensão e profundidade da recessão norte-americana não forem realmente extremas, e a corrente de globalização continuar, há previsão de que, para 2050, considerando-se níveis de crescimento atuais de 11% e 9%, respectivamente, para China e Índia, veremos uma nova classificação no que tange ao tamanho das economias do mundo (1° China, 2° EUA, 3° Índia). Apesar disso, como nos apontam a revista Global Finance (4) e The Economist (5), há ainda postura protecionista no que tange ao mercado de capitais, o que é um problema em tempos de crise de crédito. Muitas outras reflexões ainda são pertinentes, como a questão do impacto ambiental dessas nações (altamente dependentes do carvão e petróleo) e de problemáticas políticas inerentes ao seu sistema de mercado que mescla subsídios públicos e investimentos privados. Abaixo, ampla bibliografia para que os leitores do blog aprofundem-se no assunto.

Fontes e citações:

(1) Para ver mais sobre detalhes da concessão de grau de investimento, notar: http://economia--devpratica.blogspot.com/search?q=grau+de+investimento e também o infográfico magnífico disponível no site do Estadão - http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=610

(2) Tradução livre: Os sistemas econômico e social deles são vastamente diferentes [...] mas eles tem capacidades que podem ser complementares. Sobre as opiniões de Tarun Khanna, acompanhe a entrevista disponível em inglês em http://hbswk.hbs.edu/item/5766.html. Caso seja necessária a tradução, favor solicitar no mail [email protected]

(3) Tradução livre:"alguém está produzindo uma parte na China, outro está fazendo algo na Córeia e eles estão unindo tudo no Japão, para depois enviar ao Estados Unidos. A necessidade de tecnologia para manter as pessoas se comunicando é fundamental".

(4) Vejam a reportagem na íntegra em inglês, da Revista Global Finance, em http://www.gfmag.com/index.php?idPage=858

(5) Verificar reportangens em inglês no site da Revista The Economist

Obs: quaisquer traduções que sejam necessárias ref. às fontes informadas, serão disponibilizadas gratuitamente via solicitação de mail [email protected] . O tempo de tradução varia de cada publicação, sendo o máximo de três dias.




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