Faites vos jeux!
Economia

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Tal como se antecipava, a discussão no Parlamento da proposta de actualização do PEC “elaborada” pelo Governo do Partido Socialista redundou na respectiva reprovação através de uma maioria alargada assente no voto de todos os partidos da Oposição, assim conduzindo à anunciada demissão do Primeiro-Ministro e do seu Governo.

Dentro de tal previsibilidade, a discussão deste tema na Assembleia da República permitiu ainda algumas circunstâncias curiosas e a confirmação de evidências que há muito se vinham tornado claras mesmo aos olhos dos cidadãos menos atentos.

Desde logo, a sobranceria e arrogância de José Sócrates e seus pares e a lógica de desrespeito pela Assembleia da República com que pautou vários dos seus actos governativos, agora coroada com o vergonhoso abandono do Parlamento logo após a intervenção do Ministro das Finanças – e a subsequente saída deste aquando da intervenção de Manuela Ferreira Leite.

De igual forma, a demonstração de que na obsessiva colagem dos “Partidos da Direita” às políticas do Governo e, em paralelo, na irresponsável recusa de toda e qualquer política de austeridade que contribua para a consolidação orçamental do Estado, quer PCP quer Bloco de Esquerda continuam a enveredar pela lógica utópica, quasi-alucinogénica, de quem parece querer viver uma realidade virtual, sem qualquer ligação ao mundo que nos rodeia e às circunstâncias concretas com que se deparam Estados e agentes económicos.

A registar, finalmente, a oportunidade concedida à ex-líder do PSD para desferir o golpe de misericórdia ao estertor governativo, lembrando os alertas produzidos em tempo, os caminhos então propostos e a necessidade de o próprio PS renascer das cinzas com outra liderança e outra atitude.

Com o Governo ainda em funções por mais alguns dias, mas com o Presidente a discutir com os Partidos Políticos e o Conselho de Estado o caminho para o incontornável acto eleitoral que terá lugar entre o final de Maio e a primeira semana de Junho, o País já antes mergulhara na campanha eleitoral.

Em cima da mesa, coloca-se sobretudo uma questão: conseguirá José Sócrates levar a bom porto a sua estratégia, fazer valer a sua vitimização e renovar a confiança da maioria dos portugueses?

A lógica do reeleito líder do PS e da sua entourage próxima, sob o apoio subserviente da generalidade de um Partido cuja dependência do poder parece sobrepor-se ao respeito pelos valores ideológicos e de cultura democrática que sempre cultivou e praticou, assenta em algumas ideias simples, que a realidade cuida de desmentir mas que pode colher junto de uma franja substancial do eleitorado.

Em primeiro lugar, o Governo estava a conduzir de forma irrepreensível a política económica e financeira do País, conseguindo não só registar francas melhorias na sua situação orçamental como garantindo, até, que Portugal ficasse salvaguardado de qualquer potencial ajuda externa, evidentemente atentatória da nossa soberania e dignidade.

Em segundo lugar, o Governo foi deposto por uma espécie de Golpe de Estado parlamentar, resultante da “sede de poder” da Oposição, a qual, para cúmulo nem sequer apresenta alternativas credíveis para a resolução dos graves problemas com que o País se confronta.

Em terceiro lugar - ainda que este argumento seja algo dissimulado por ora – esse Golpe de Estado contou com a colaboração tácita do Presidente reeleito, assim se compreendendo a alteração de postura de Cavaco Silva de Outubro último (quando formulara diversos apoios para a criação de um consenso alargado) para o presente mês de Março (quando se disse “ultrapassado pelos acontecimentos”).

Finalmente, a máquina de comunicação formal e informal do Partido Socialista encarregar-se-á de veicular a ideia de que, sem Sócrates ou, o que é o mesmo no contexto actual, com o PSD no Governo, serão postas em causa uma série de regalias, de direitos e de serviços, desde o 13º mês, à gratuitidade da educação ou da saúde, à introdução da possibilidade de despedimento na função pública, ao aumento de impostos a toda uma série de outras ameaças.

Neste último caso, ignorando a ausência de uma real estratégia de consolidação orçamental do próprio Partido Socialista e os sucessivos volte-faces de opinião e de opções políticas do Governo cessante e do que o antecedeu (sob a mesma liderança), José Sócrates e os seus apaniguados procurarão explorar até à exaustão qualquer sinal de contradição do PSD, ainda que o mesmo advenha de meros cenários hipotéticos ou seja veiculado por militantes que não traduzam a opinião da linha dirigente do Partido.

Infelizmente, a esmagadora maioria dos Portugueses não lê sequer os jornais nacionais e não tem consciência da gravidade das consequências do rumo a que este Governo conduziu o País ao longo dos últimos anos.

E, se assim acontece, é óbvio que é apenas uma ínfima minoria a parcela da população que acompanha os jornais estrangeiros, sejam ou não da área económica, e que vem constatando a forma como o País vem sendo ridicularizado pela generalidade dos especialistas e analistas políticos e económicos, sob a liderança de José Sócrates.

A culminar várias outras peças eloquentes, o Financial Times explicava recentemente o que Portugal tinha a ganhar em ser uma província do Brasil.

Os dados estão lançados.



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