Ésquilo, Sófocles e a meta de inflação
Economia

Ésquilo, Sófocles e a meta de inflação


Mais uma vez aproxima-se o momento de definição da meta de inflação (no caso para 2011) e, como de hábito, os argumentos equivocados contra sua redução já começam a aparecer. Os suspeitos de sempre se opõem à meta menor alegando que a busca por um patamar mais baixo de inflação imporia limites à queda das taxas de juros. Lembram, ademais, que a política monetária do segundo semestre do próximo ano – precisamente o período eleitoral – já será calibrada com base na meta para 2011, elevando os riscos de juros maiores num momento politicamente delicado.

Este problema, porém, é falso. Fosse verdadeiro, os mesmos que defendem que uma meta mais baixa de inflação implicaria juros maiores deveriam também concluir que uma meta mais alta possibilitaria uma redução mais pronunciada da taxa de juros. Mas, se acreditam nisto, parecem manter silêncio obsequioso a respeito. O que é positivo, diga-se, pois se trata de uma visão muito errada.

Para entender o porquê imagine que seja anunciada uma meta de inflação mais elevada, digamos, 8%. Neste caso, sabendo que o Banco Central teria que acelerar a inflação relativamente aos níveis atuais, a população não iria ficar passiva; pelo contrário, revisaria para cima suas expectativas e, com elas, a inflação.

Delírios de economista? Não. Peço ao leitor que observe no gráfico a evolução das expectativas de inflação para 2009, estimadas a partir do comportamento das taxas nominais e reais de juros dos títulos públicos federais no período anterior e posterior à definição da meta de inflação para este ano, que ocorreu em meados de 2007. Antes da escolha (o ponto zero no eixo horizontal) as expectativas relativas a 2009 se encontravam em níveis bastante reduzidos, convergindo para patamares próximos a 4% quando este valor foi ventilado como a possível meta. Após a decisão de manter a meta em 4,5% as expectativas se ajustaram, não por coincidência, em torno deste mesmo valor.

Vale dizer, a escolha de uma meta de inflação acima das expectativas correntes não foi (nem é) capaz de ganhar qualquer espaço adicional para a redução da taxa de juros. Apenas convidou ao ajuste para cima das expectativas, convite este prontamente aceito.

Será que teríamos uma reação assimétrica no caso de uma redução da meta, isto é, expectativas não se ajustando para baixo? Dificilmente, à luz da conquista de credibilidade pelo Banco Central. Mais importante, todavia, é que as expectativas de inflação relativas a 2011 já se encontram em valores inferiores a 4,5%, como mostra a segunda linha no gráfico. Não haveria sequer a necessidade de convencer os formadores de expectativas daquilo em que já acreditam.

Enquanto nas tragédias gregas é a tentativa de fugir do destino que leva à fatalidade, na versão local é a insistência em buscar metas “fáceis”, fixando-as acima das expectativas, que acaba levando à sua deterioração. Não devemos, portanto, nos surpreender quando as expectativas de inflação relativas a 2011 começarem a subir. Há quem nunca perca a chance de perder uma oportunidade.




(Publicado 27/Mai/2009)



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