Economia
Eleições demais?
Moisés Naím, hoje na FOLHA DE S. PAULO e sua
específica análise sobre como a política (eleições) influenciam a economia
(mercados).
O que Nicolas Sarkozy, Mahmoud Ahmadinejad e
Vladimir Putin têm em comum? O fato de que vão enfrentar eleições em breve. O
mesmo vale para Barack Obama, Hugo Chávez e muitos outros. Neste ano, haverá
eleições presidenciais ou mudanças de chefe de governo em países que, juntos,
representam mais de metade da economia mundial. Mas não é apenas isso.
Muitos desses líderes são responsáveis por tomar decisões críticas para a
humanidade, ao mesmo tempo em que buscam o voto de suas populações. E, com
frequência, a política local entra em tensão com as realidades globais.
A Grécia terá eleições em abril. E já vimos
que aquilo que acontece na Grécia afeta a todos nós. Hoje acontecem eleições
parlamentares no Irã, e o resultado será negativo para o presidente
Ahmadinejad. Mas não se alegre: o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, é quem
sairá fortalecido. Em todo caso, os dois andam seduzindo seus eleitores ao
mesmo tempo em que decidem sobre bombas atômicas, petróleo e economia. E neste
domingo a Rússia irá as urnas para escolher seu próximo presidente. Vladimir
Putin tem a eleição assegurada, mas seu triunfalismo sofreu com os protestos
maciços contra ele. O líder russo também se viu obrigado a combinar cálculos
eleitorais com decisões sobre a Síria, o Irã, o Afeganistão e outras
emergências globais.
A mesma coisa ocorre com Sarkozy, que em 22
de abril vai enfrentar o socialista François Hollande. E com Barack Obama, que
de agora até as eleições de novembro terá que administrar graves crises
internacionais e, ao mesmo tempo, cuidar de sua defesa contra os ataques de seu
rival republicano.
Na China, o presidente Hu Jintao está
encerrando seu mandato. Embora essa transição ocorra sem trauma, a troca de
líder do país de cuja saúde econômica e política depende a estabilidade mundial
acrescenta ainda mais complexidade a um ano que já é muito complexo.
Mas as mudanças não se limitam às
superpotências. Ainda haverá eleição presidencial no Egito (maio ou junho), no
México (1º de julho) e na Venezuela (7 de outubro).
No caso do Egito, os resultados terão impacto
no Oriente Médio e sobre a própria evolução da Primavera Árabe. No do México,
vão influir sobre a expansão das narcoguerras. E, no caso da Venezuela, os
resultados vão influir na ascendência de Hugo Chávez sobre seus vizinhos mais
pobres, especialmente Cuba e Nicarágua.
Nas democracias, as eleições são normais e
desejáveis. Mas não saem de graça. Os cálculos eleitorais fazem com que os
dirigentes paralisem ou adiem decisões necessárias ou tomem decisões
indesejáveis.
Já sabemos que um dos fatores que agravam as
crises econômicas é que os mercados financeiros se movem à velocidade da
internet, enquanto os governos avançam na velocidade da democracia. A essa disparidade
da velocidade da tomada de decisões é preciso acrescentar a perda de qualidade
que sofrem as decisões em períodos eleitorais, em todos os âmbitos, não apenas
o econômico. Esse problema não se resolve com menos eleições. Alivia-se com mais
e melhor democracia.
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