Editorial da FOLHA DE S. PAULO nesta data comenta sobre: DESINDEXAR A ECONOMIA:
Pela primeira vez desde o pico inflacionário do início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o tema da indexação volta com força ao debate da política econômica. A memória inflacionária no Brasil está viva, mais do que se imagina.
A lista dos preços indexados é enorme. Pedágios, escolas, luz, água, esgoto, telefonia, transporte público, aluguel e medicamentos, entre outros, são direta ou indiretamente reajustados de acordo com a inflação passada. Inflação antiga realimenta a futura.
A taxa cheia nos 12 meses encerrados em abril foi de 6,5%. Já os preços dos serviços subiram 8,6%. O grupo aluguel, educação, condomínio, empregados domésticos avançou 9,3%. Desindexar os preços é mais fácil em momentos de inflação baixa. Como nada se fez nos últimos anos, agora é preciso recuperar o tempo perdido, mas sem afrontar contratos nem impor a vontade do governo ao setor privado.
O primeiro passo certamente é controlar a inflação e trazê-la de volta ao centro da meta, 4,5%. É preciso dar garantias de que isso ocorrerá em 2012, pois, do contrário, qualquer esforço de desindexação carecerá de credibilidade. No médio prazo, um compromisso de redução gradual da meta de inflação ajudaria nesse objetivo.
Também é preciso atenção às questões setoriais. Os contratos de concessões públicas deveriam ser corrigidos não de acordo com o IGP (Índice Geral de Preços), mas segundo planilhas de custo e rentabilidade. A dificuldade é que só na renovação das concessões as regras podem ser alteradas, o que demandará muito tempo.
Além disso, o IGP é um mau indexador. Sua composição confere peso de 60% aos preços no atacado, que sofrem impacto direto da taxa de câmbio e da cotação de commodities. Este peso foi definido décadas atrás e não guarda mais correlação com a estrutura atual da economia. Acabar com o IGP é uma ideia a considerar.
Por fim, o ciclo da indexação se fecha com as empresas: o aumento sincronizado de preços importantes, como salários, matérias-primas e logística, acaba por impor uma cultura indesejável de repasse para o consumidor.
Romper tal ciclo demanda, além do esforço de desindexação, uma agenda de desoneração tributária focalizada, melhoria logística e redução de custos, para gerar mais competição e eficiência.