Economia
Como prevenir uma recessão.
NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics". Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate e publicado na FOLHA DE S. PAULO.
Os mais recentes dados econômicos sugerem que a recessão está voltando nas
economias mais avançadas, com os mercados financeiros atingindo agora níveis de
desgaste semelhantes aos registrados quando do colapso de 2008. Os riscos de
uma crise econômica e financeira ainda pior que a anterior -e agora envolvendo
países insolventes- são significativos.
Assim, o que se poderia fazer para minimizar as consequências adversas de nova
contração econômica e prevenir uma depressão mais profunda e um colapso
financeiro?
Primeiro, devemos aceitar que medidas de austeridade, necessárias para evitar
um desastre fiscal, acarretam efeitos recessivos sobre a produção. Assim, se os
países na periferia da zona do euro se virem forçados a adotar medidas de
austeridade fiscal, outras nações capazes de prover estímulo em curto prazo
deveriam fazê-lo, adiando seus esforços de austeridade.
Segundo, embora a política monetária tenha impacto limitado quando os problemas
são dívida excessiva e insolvência, em vez de falta de liquidez, um relaxamento
mais amplo das condições de crédito, em lugar de um simples relaxamento
quantitativo, pode se provar útil.
Terceiro, para restaurar o crescimento do crédito, os bancos da zona do euro e
os sistemas bancários subcapitalizados deveriam ser reforçados via
financiamento público em um programa que abarcaria toda a União Europeia. Para
evitar nova compressão de crédito à medida que os bancos reduzam seu nível de
endividamento, os requerimentos de capital e liquidez que os bancos precisam
cumprir poderiam ser relaxados por um breve período.
Quarto, é necessário prover liquidez em larga escala para os governos
solventes, a fim de evitar uma disparada nos "spreads" e a perda de
acesso a mercados que podem transformar a falta de liquidez em insolvência.
Mesmo com mudanças de política econômica, governos precisam de tempo para
restaurar sua credibilidade. Até que isso aconteça, os mercados manterão
pressão sobre os "spreads" das dívidas nacionais, o que torna
provável que o temor de uma crise ajude a criá-la.
Quinto, dívidas acumuladas que não possam ser reduzidas via crescimento,
poupança ou inflação devem ser tornadas sustentáveis por meio de
reestruturações ordenadas, redução de dívidas e conversão de dívida em capital.
Sexto, mesmo que a Grécia e outros países periféricos da zona do euro obtenham
perdão de porção significativa de suas dívidas, o crescimento econômico não
será restaurado até que a competitividade seja restaurada. E sem um retorno
rápido ao crescimento, novos calotes, e novas inquietações sociais, não poderão
ser evitados.
Sétimo, o motivo para o alto desemprego e o crescimento anêmico das economias
avançadas é estrutural e inclui competição mais acirrada vinda de mercados
emergentes. A resposta correta a mudanças de tamanha abrangência não está no
protecionismo.
Oitavo, as economias de mercado emergente dispõem de mais ferramentas de
política monetária que as economias avançadas, no momento, e deveriam relaxar
sua política fiscal e monetária. O FMI e o Banco Mundial podem servir como
recurso final de empréstimos aos mercados emergentes que corram risco de perda
de acesso aos mercados financeiros, desde que aceitem reformas estruturais.
Os riscos que nos aguardam não são de uma amena recessão de duplo mergulho, mas
sim de uma contração severa que poderia se transformar em nova Grande
Depressão, especialmente se a crise na zona do euro escapar ao controle e
resultar em colapso financeiro mundial.
Políticas econômicas incorretas e teimosas geraram guerras comerciais e
cambiais, na primeira Grande Depressão, acompanhadas por calotes desordenados,
deflação, alta na disparidade de renda e riqueza, pobreza, desespero e
instabilidades econômicas e sociais que terminaram por produzir regimes
autoritários e a Segunda Guerra.
A melhor maneira de evitar o risco de que essa sequência se repita é uma ação
audaciosa e agressiva das autoridades econômicas mundiais -e já.
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NOURIEL
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