Economia
Capitalismo de Estado ganha mais força no Brasil.
NOURIEL
ROUBINI - ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE
Na FOLHA DE S. PAULO, NOURIEL
ROUBINI, professor de
Economia da Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova
York e presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com), escreve e critica o capitalismo de estado, inclusive no Brasil.
Nas quatro
últimas semanas, visitei Sófia, Kuala Lumpur, Dubai, Londres, Milão, Frankfurt,
Berlim, Paris, Pequim, Tóquio, Istambul e EUA. Os inúmeros desafios que a
economia mundial enfrenta estavam por perto.
Na Europa, o
risco de uma dissolução da zona do euro caiu depois da decisão do Banco Central
Europeu, no terceiro trimestre de 2012, de intervir para sustentar os títulos
de dívida nacional.
Mas os
problemas fundamentais da UE - baixo potencial de crescimento, recessão
continuada, perda de competitividade e endividamento - não foram resolvidos.
Além disso, o
acordo entre os países centrais da zona do euro, o BCE e as nações periféricas
- dolorosa austeridade em troca de apoio financeiro - está se desfazendo porque o
cansaço quanto à austeridade nos países periféricos contrasta com o cansaço de
resgatar dos países centrais, como a Alemanha.
Na China, a
transição de líder aconteceu sem solavancos. Mas o modelo econômico continua,
na definição do ex-premiê Wen Jiabao, "instável, desequilibrado,
descoordenado e insustentável".
Os problemas
da China são muitos: os desequilíbrios regionais; o excesso de poupança e o
baixo consumo; a alta da renda e da desigualdade de renda; e a imensa
degradação ambiental.
Os novos
líderes do país falam convictamente da necessidade de aprofundar as reformas e
reequilibrar a economia, mas continuam cautelosos e conservadores.
Como
resultado, as reformas necessárias para reequilibrar a economia podem não
acontecer com rapidez suficiente para impedir uma aterrissagem dura quando a
contração do investimento chegar, o que deve vir no primeiro trimestre de 2014.
Na China e na
Rússia (e em parte no Brasil e na Índia), o capitalismo de Estado ganhou mais
força, e isso é mau sinal para o crescimento.
No geral,
esses quatro países (o grupo Bric) vêm recebendo elogios exagerados, e outros
emergentes podem se sair melhor na década que vem - Malásia, Filipinas e
Indonésia, na Ásia; Chile, Colômbia e Peru, na América Latina; e Cazaquistão,
Azerbaijão e Polônia, na Europa Oriental e na Ásia Central.
Mais a leste,
o Japão inicia uma nova experiência econômica para conter a deflação, estimular
o crescimento e restaurar a confiança.
O modelo
econômico tem diversos componentes: estímulo monetário agressivo; um estímulo
fiscal neste ano para forçar uma retomada da demanda, seguido por austeridade
fiscal em 2014; reformas estruturais; e novos acordos de livre comércio.
Mas os
desafios são assustadores. Não está claro que a deflação possa ser vencida por
meio de política monetária; um estímulo fiscal excessivo e a postergação das
medidas de austeridade podem tornar a dívida insustentável; e a reforma está
indefinida.
Temos também
o Oriente Médio, que continua a ser um arco de instabilidade da África do Norte
ao Paquistão. A Turquia quer se tornar uma grande potência regional. Mas o país
tem muitos desafios nacionais a enfrentar. O deficit em conta-corrente é alto e
a política monetária parece confusa, já que o estímulo ao crescimento tromba
com o controle da inflação.
Nesse
ambiente mundial frágil, será que os EUA se tornaram um farol de esperança?
Eles experimentam diversas tendências econômicas positivas: o mercado de
habitação se recupera, a exploração de petróleo e gás em campos de xisto
reduzirá os custos da energia; a criação de empregos avança; os custos
trabalhistas crescentes na Ásia estimulam o renascimento da indústria; e as
medidas agressivas de relaxamento quantitativo ajudam tanto a economia real
quanto os mercados financeiros.
Mas ainda há
riscos. O desemprego e a dívida domiciliar continuam altos. O arrasto fiscal
causado pelo aumento de impostos e cortes de gastos prejudicará o crescimento,
e o sistema político é disfuncional, com a polarização entre os partidos
impedindo soluções sobre o deficit fiscal, imigração, política de energia e
outras questões que afetam o crescimento.
A zona do
euro e o Reino Unido continuam afundados em recessão, agravada pelas política
monetária e fiscal dura. Entre as economias emergentes, a China pode enfrentar
uma aterrissagem dura, por volta do final de 2014, se as reformas estruturais
essenciais forem adiadas, e os demais países do grupo Bric precisam deixar para
trás o capitalismo de Estado.
Embora outros
mercados emergentes na Ásia e na América Latina estejam mostrando mais
dinamismo que o grupo Bric, sua força não bastará para virar a maré mundial.
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